Publicação: “Público” Data: 8 de Maio de 2016 Campeonato Nacional 2016 Taça de Portugal 2016 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2016 PROVA Nº 4 (PARTE II) A CRIATURA VISITA O CRIADOR Autor: Inspector Boavida Um
rebate de consciência ou um ataque súbito de saudades levou o subchefe
Pinguinhas até ao Porto para um encontro com o seu criador. O Inspetor
Boavida não o sabia, mas a criatura ganhara vida e vontade próprias. Ainda
não eram seis horas da manhã e já Pinguinhas estava na Estação de Santa
Apolónia para apanhar o primeiro comboio Alfa Pendular do dia, tal era a sua
enorme vontade de voltar ao norte, de estar de novo com o seu criador e de
rever alguns confrades, como o Jartur, o Agente Guima ou o Sargento Estrela. E tinha ainda a secreta
esperança de que o bracarense Daniel Falcão e o viseense Zé rumassem também
eles à cidade Invicta para dois longos dedos de conversa. Só não queria
encontrar-se com o fanfarrão e mitómano Smaluco,
mas este devia andar pelos lados da cadeia de Tires, onde a sua amada Natália
Vaz está presa. Para se
ocupar durante as quase três horas de viagem, Pinguinhas abasteceu-se de
diversos jornais e revistas do dia, que foi esfolheando, página a página, até
cair num sono profundo, depois da leitura atenta e cuidada de uma análise
acerca da crise política nacional, ultrapassada duas semanas antes com a
tomada de posse do novo Governo, contra a vontade do Presidente da República
(que preferia ter dissolvido a Assembleia, mas…); de um perfil da responsável
pela Pasta da Cultura (um setor de atividade de que é apaixonado); de um
artigo de opinião sobre o papa dos presidentes dos clubes de futebol
nacionais (um homem que admira profundamente); de uma crítica a um novo
espetáculo do Teatro Nacional São João (uma instituição que muito aprecia)...
Estas e outras matérias jornalísticas preencheram-lhe as meninges antes de
chegar a Coimbra B. Quanto o
comboio parou nas Devesas, em Gaia, Pinguinhas despertou e logo se afundou em
pensamentos mais ou menos saudosistas. Fora ali, numa tasca mesmo em frente
da Estação que ele nascera, alguns anos antes, da pena e imaginação do seu
criador. Já então havia sido criado o seu irmão Smaluco,
a quem foi dado todo o protagonismo, sendo ele relegado para o esquecimento.
Desgostoso, fugiu para Lisboa, onde reside e desenvolve atividade numa
esquadra de Polícia na baixa da cidade. Esteve algum tempo sem dar cavaco ao
seu progenitor, mas pretende agora fazer as pazes com ele. Talvez o Inspetor
Boavida, ao perceber o seu arrependimento, o aceite de volta sem quaisquer
ressentimentos e lhe dê a oportunidade de inscrever finalmente o seu nome nas
lides policiárias, conquistando um lugar na galeria das personagens mais
assíduas. O
subchefe Pinguinhas fez com sentida emoção a travessia da ponte de São João
cantarolando baixinho a canção de Rui Veloso: “Quem vem e atravessa o rio /
Junto à Serra do Pilar / Vê um velho casario / Que se estende até ao mar”. E
continuou, de olhos emudecidos: “Quem te vê ao vir da ponte / És cascata
são-joanina / Erigida sobre o monte / No meio da neblina”. Parou de cantar e
murmurou: “E é sempre a primeira vez / Em cada regresso a casa / Rever-te
nessa altivez / De milhafre ferido na asa”. Quando o comboio parou na
Campanhã, Pinguinhas saiu lesto e apressou-se a tomar um táxi para o centro
da cidade. Não havia tempo a perder. Quatro desejos animavam-no como missão
para aquele seu primeiro dia no Porto, mas só um deles era concretizável.
Qual? A –
Pedir uma audiência ao Presidente da Câmara do Porto, Rui Rio. B –
Visitar o Museu do Futebol Clube do Porto. C –
Assistir a um concerto do pianista Pedro Burmester. D – Cear
no restaurante DOP, do Chef Rui Paula, com o
Inspetor Boavida. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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