Publicação: “Público” Data: 7 de Fevereiro de 2016 Campeonato Nacional 2016 Taça de Portugal 2016 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2016 PROVA Nº 1 (PARTE I) O ASSALTO Autor: Inspector Jagodes De mãos
nos bolsos das calças, andar gingão, assobiando as melodias da moda, o João
ia percorrendo as centenas de metros que mediavam entre o Café Estrela e casa
onde morava a sua tia Eulália e a prima Catarina, debaixo da chuva diluviana
que se abateu no seguimento de trovoada que andava no ar. Já se
aproximava da casa quando ouviu um estrondo, semelhante ao do bater de uma
pesada porta, logo seguido do ruído insistente de um tropel pelas escadas
abaixo. Logo depois, um vulto dobrou a esquina da porta da rua, na sua direcção, mas logo inverteu o sentido da marcha, correndo
rua acima. Pareceu-lhe reconhecer o Toneca, um tipo
que achava ser fixe e que andava embeiçado pela sua prima Catarina, de quem
se considerava namorado. - Olha, olha,
mais uma zanga. Este gajo ainda não percebeu que a
prima é uma fera… Deteve-se
um pouco a vê-lo desaparecer no cimo da rua, numa correria louca, para ele,
sem qualquer sentido. Mas enfim, cada qual foge do que quer, mas o mais certo
era no dia seguinte lá estar com falinhas mansas e melosas para a priminha.
Arrufos… Subiu as
escadas, continuando a treinar as melodias com o assobio, quando se apercebeu
de gemidos que vinham de um recanto do corredor do primeiro andar. Subiu mais
apressadamente, a dois e dois, os restantes degraus e deparou com a prima
deitada no chão, sangrando do nariz ou dos lábios, respirando ofegantemente… - A tia…
A tia… Correu
para dentro de casa e viu a senhora idosa deitada no chão, a carteira aberta
a seu lado, revolvida, armários com gavetas abertas. Tinha passado por ali um
autêntico tufão, obra de quem andava à procura de bens. A
senhora já não respirava, embora não houvesse sinais de violência física.
Certamente o coração não resistiu a tamanha confusão, como veio a ser provado
mais tarde na autópsia. O João
perguntou à prima se estava bem e perante o seu sinal positivo, disse-lhe
para chamar o 112, não mexer em nada, nem deixar ninguém mexer e logo se pôs
a caminho, descendo as escadas e seguindo o rumo que o vulto tomara, até ao
salão de jogos do Pelintra, onde quase tinha a certeza de encontrar o Toneca. O sol já brilhava e o calor fazia-se sentir. Lá
estava ele, como sempre a jogar a dinheiro, quase sempre com paradas bem
altas, muito superiores ao que seria a sua disponibilidade monetária, sem que
houvesse uma explicação plausível. Para ele, eram sempre uns “dinheiritos que
ganhou”, não revelava era onde. João
acercou-se do balcão e perguntou dissimuladamente ao Pixote
há quanto tempo durava aquele jogo. - Há
cerca de dez minutos. O Toneca só chegou nessa
altura, mas o jogo já vinha de trás e foi retomado. O gajo
disse que teve de ir lá acima porque estava mal disposto… - Lá
acima, onde? - Aqui
ao primeiro andar onde tem um quarto alugado... O João
aproximou-se do Toneca e disse-lhe que o
acompanhasse de imediato porque a Catarina fora assaltada. De um
salto, Toneca largou tudo e, pegando no casaco,
correu para a porta, descendo a rua em grande velocidade. Da porta dos
bilhares, João seguiu-o com o olhar, até o ver entrar no prédio onde morava a
sua namorada. A
polícia já tinha chegado e o Toneca foi detido para
interrogatório, ao qual respondeu dizendo que não tinha conhecimento de nada,
até o João lhe ter dito que Catarina fora assaltada. Por
sugestão de João, a polícia vistoriou a impecável e cara roupa de Toneca, procurando nos bolsos do casaco qualquer indício
comprometedor e foi ao quarto dele, por cima da casa dos bilhares, mas nada
encontrou de significativo. O João, com os seus dotes detectivescos,
começava a perceber que talvez as suas suspeitas iniciais não fossem correctas, ou havia mais alguma coisa que lhe escapava. Pergunta-se:
Terá sido o Toneca a cometer os crimes? Em caso
afirmativo ou negativo, justifique todas as suas conclusões. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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