Publicação: “Público” Data: 6 de Março de 2016 Campeonato Nacional 2016 Taça de Portugal 2016 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2016 PROVA Nº 2 (PARTE I) SUICÍDIO OU HOMICÍDIO? Autor: John Death Humberto
olhou pela janela, que dava para o quintal, bastante abandonado, com muitas
ervas daninhas e mato alto. Via-se que há muito não passava por ali quem o
tratasse. Debruçou-se da janela e reparou que junto à parede, cerca de três
metros abaixo, havia estilhaços do vidro da janela onde estava. Apesar da
chuva que caíra nas últimas horas, não havia poças de água, sinal que a terra
a absorvera. Ao olhar para a direita, notou que um objecto brilhava com o
reflexo que o sol causava, distando cerca de 2 metros da parede. Verificou
depois que se tratava da cápsula da munição que provocou a morte do magnata
dos plásticos, Jorge Maneiras. A vítima
estava deitada de costas, com a cabeça na direcção da porta de acesso ao escritório
e os pés em direcção da única janela, por onde olhara o investigador
Humberto. No peito, notava-se uma mancha de sangue, tendo-se comprovado mais
tarde que era o local por onde entrara o projéctil que lhe causou a morte
instantânea. Quem
descobriu o cadáver foi o irmão mais novo, Adalberto, que ao passar à porta
do escritório estranhou vê-la fechada, o que não era usual, já que o irmão
fazia questão de estar sempre atento aos movimentos do corredor. Primeiro
pensou que ele não estivesse lá e não ligou, mas quando regressou, quase uma
hora depois, as suspeitas avolumaram-se. Decidiu bater à porta e chamar pelo
irmão e como não teve resposta, rodou a maçaneta da porta e deu com o triste
cenário. – O mano
estava deitado de costas e com o peito ensanguentado. Junto da mão esquerda
estava a pistola que ele tinha desde sempre, para sua defesa, como dizia, mas
que nunca usou, pelo menos que me lembre, nem em treino. Era só para dizer
que tinha. Ele andava muito estranho ultimamente, não sei bem porquê, acho
que os negócios do plástico não iam lá muito bem, mas isso quem deve saber é
o contabilista dele. Ele pouco falava comigo, aqui para nós, não eramos muito
chegados, partilhamos este casarão de família, mas cada qual fazia a sua vida
e raramente nos falávamos e quando o fazíamos eram conversas circunstanciais. – A
janela estava aberta ou fechada? – Estava
fechada, mas o vidro estava partido. – Quem
mais vive aqui? –
Ninguém. O mano não queria ninguém por cá. Todos os dias à tarde vem cá uma
senhora fazer as limpezas, fazer camas, aspirar, lavar loiças quando há,
coisas assim e vai-se embora. – E as
refeições? – Eu vou
almoçar e jantar fora todos os dias. Ele, não sei. Umas vezes acho que ia
fora, outras, devia desenrascar-se por cá. – Disse
que o seu irmão andava diferente. Em quê? – Desde
que teve um acidente que o imobilizou e os negócios começaram a correr mal…
Caiu e andou muito tempo com o braço esquerdo imobilizado e durante este
tempo nem podia assinar e foi o contabilista dele que fez tudo, não sei como,
mas acho que não correu muito bem e o meu irmão andava muito zangado e
deprimido. Mas nunca pensei que fizesse isto! Cá para mim, ainda não acredito
que o tenha feito… – Feito
o quê? – Ora,
isto, matar-se desta maneira, suicidar-se! – Acha
mesmo que se suicidou? – Bem,
só pode ter sido isso, não é? – Hum…
Então como explica o vidro da janela estilhaçado? – Deve
ter sido a saída da bala pelas costas, não? – Hum… E
a cápsula da munição no jardim? – O quê?
Quer dizer que… alguém o veio matar pelo jardim? – Hum… |
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©
DANIEL FALCÃO |
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