Publicação: “Público” Data: 28 de Agosto de 2016 Campeonato Nacional 2016 Taça de Portugal 2016 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2016 SOLUÇÃO DA PROVA Nº 6 (PARTE II) AS ASAS DA VÉNUS DE MILO Autor: Búfalos
Associados A alínea correcta
é a C). O inspector
Garrett começou por suspeitar de todos e até da hipótese de um assaltante
desconhecido. O vulto visto a correr, ou a pessoa lendo o jornal dentro do
carro, levantavam dúvidas. Mas, posta de parte a ideia de conluio por se ter
apurado que os devedores nem sequer se conheciam, concluiu que, se houvesse
um mentiroso, aquele que claramente tivesse mentido, era o provável assassino
e ladrão. E as dúvidas não tardaram a desvanecer-se. Pelo menos cinco
pormenores denunciaram o criminoso: 1.o - Foi
certamente por um telefonema que Raul Beleza chamou o 112 a comunicar o
trágico sucedido. Mas então não disse ter deixado o seu telemóvel no
escritório da senhora situado no andar de cima? D. Lina não tinha telefone
fixo nem telemóvel e o Raul disse que "nem chegou a subir e chamou o
112, tendo tido o cuidado de esperar na rua sem tocar em nada". Decerto
tinha consigo o seu próprio telemóvel o qual usou, pois na pacatez daquele
beco não haveria qualquer cabina telefónica. Mentiu, portanto. 2.o - Raul,
morador longe de Lisboa, afirmou que saiu pelas 16.45 de volta a casa, e
seriam seis horas, já "quase a chegar a casa" (uma hora e um quarto
depois), quando resolveu regressar por ter reparado que se esquecera do
telemóvel. Mas pelas seis e meia já estava a chamar o 112. A crer no que
afirmou, o regresso teria sido demasiado rápido, ou seja, na verdade estava
muito mais perto... Mentira, também. 3.o - Luís disse
ter entregado algum dinheiro como amortização, em notas que a senhora guardou
debaixo da miniatura da Vénus de Milo. Portanto a estatueta ainda lá estava
nessa altura. Mas o Raul, que foi recebido antes, afirmou nem ter reparado na
estatueta em cima da secretária, a qual, pesando mais de 7 quilos de ouro,
não devia passar despercebida. Mentiu. Claro que a viu e certamente cobiçou. 4.o - Só lhe foi
perguntado, como aos outros, como correra a conversa, logo não tinha motivo
para falar da estatueta a não ser que se descaísse, ainda por cima para dizer
que não a viu. 5.o - Como é que
Raul pode ter visto pelas costas um vulto a correr na sua frente, portanto
para o lado contrário em que vinha, se o pequeno beco mal iluminado não tinha
saída e acabava num alto muro? Tudo se passa em Dezembro e àquela hora já
está escuro. E ia pra onde correndo em direcção ao muro alto? Nova mentira. 6.o - Quando diz
que "ainda viu um vulto a correr levando algo debaixo do braço",
está claramente a tentar sugerir um roubo de que não podia saber a não ser
que fosse ele o autor. Note-se que a polícia só depois dos interrogatórios é
que constatou o roubo da estatueta. Ao contrário do
Raul, os depoimentos do Amilcar, do Luis e do Daniel parecem credíveis,
descontando a ignorância e a grosseria deste último. Afinal a Vénus de Milo
não tinha braços, mas tinha "asas"... Em face de tudo, Garrett orientou as suas
suspeitas para a culpabilidade do RAUL BELEZA. Era quase evidente que ele
teria esperado dentro do seu carro perto da casa, lendo um jornal tapando a
cara, para não ser reconhecido mais tarde. Podia assim vigiar entradas e
saídas. Terá visto a saída do Luis, esperado algum tempo para ver que ninguém
mais aparecia, para então bater à porta com a intenção provável de
"renegociar a dívida" e fazer "voar" a Vénus de Milo. D.
Lina abriu, terão subido ao escritório, onde terá havido uma discussão,
acabando na violenta agressão da usurária no alto das escadas talvez com a
estatueta como arma, e seguiu-se a queda da senhora por ali abaixo. Consumado
o crime inventou uma saída airosa: dizer ter visto um vulto correndo com algo
debaixo do braço, ter encontrado a porta escancarada e a senhora já morta. Na
sua ingenuidade achava que ninguém suspeitaria de que fosse o próprio
criminoso a chamar a polícia. Mas a verdade é que isso o viria a comprometer,
pois declarara que não subira a escada, nem tinha consigo o telemóvel. Muito
provavelmente a polícia veio a encontrar a estatueta da Vénus de Milo, talvez
com sinais de sangue, escondida algures ou dentro do automóvel do Raul. E
talvez mais alguma coisa que não lhe pertencia, incluindo as notas que o Luis
deixara. E este não terá tido dúvidas em identificar o carro do Raul como
sendo o tal estacionado à porta. Era o elemento que faltava para Garrett não
ter mais hesitações. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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