Publicação: “Público” Data: 11 de Dezembro de 2016 Campeonato Nacional 2016 Taça de Portugal 2016 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2016 SOLUÇÃO DA PROVA Nº 10 (PARTE I) COMO NA LENDA DE PILARZITO Autor: Mário Campino Esgotei todos os apontamentos do
caderninho de capa negra, que durante anos registei sobre o Avô Palaló.
Assim, este será o último enigma consagrado ao personagem, por mim, seu neto,
relembrado. Aproveito para dedicar o presente trabalho a todos os
policiaristas, em especial, perdoem ao ZÉ, um admirador do Avô e que
instigou, tenazmente, à continuidade. É óbvio que o cabo
André não podia agir sem uma declaração formal resultante da autópsia, cujo
relatório chegou cindo dias após os factos. Crime, em resultado de asfixia.
De facto, a face congestionada de cor azulada, lábios e nariz macerados, eram
sintomáticos da sufocação, uma vez que o médico, no local, recusara a morte
por submersão, e as equimoses para a hipótese de queda contra a pedra de
lavar roupa não eram bastantes para ocasionar a morte; aliás teriam que ser
duas quedas, de frente (para o rosto) e de costas (para a nuca). Ora a
sufocação, caracterizada pela suspensão dos órgãos respiratórios, resulta de
estrangulamento, esganação, enforcamento, deixam marcas identificativas
próprias, a olho nú, tal como a submersão, que o médico registou ao tirar-se
o corpo da água. Numa remota
hipótese de as equimoses do rosto terem sido produzidas pela areia do fundo
do riacho, lembremos que a cabeça da vítima não chegava ao fundo. Resta a
sufocação por asfixia, em vista dos indícios externos já referenciados e dos
internos que terão sido detectados na autópsia, estando fora de causa a
sufocação por acidente ou doença, não referidas. A pergunta que se
impunha seguidamente era: quem praticou o crime e como? O cabo André, bem
alicerçado pelo Avô Palaló, não tinha dúvidas. O primeiro elemento de prova,
para esconder "o como?", é o pequeno pedaço de unha partida
encontrado na almofada da cadeira. Depois de uma pancada com o toco de
madeira, na nuca, que atordoou a vítima, a tentativa consumada de sufocação,
que a vítima ainda tentou evitar puxando a almofada onde partiu a unha, fraca
tentativa contra a força bruta da assassina. Sim, assassina, trata-se de uma
mulher grande, uma “bisarma”, no dizer do povo. Sem apelo nem agravo, existem
três provas contra “Zabel”, mais concretamente Isabel. 1ª – O rasto de
pés grandes, mais profundo nos calcanhares, identificou a autora e transporte
do corpo para o riacho (para simular suicídio, por afogamento, talvez) de
nada valendo a tentativa de escondê-lo com os sapatos da morta e o carrinho
de mão para indiciar que o transporte do corpo tinha sido efectuado por uma
pessoa sem poder físico para tal, possivelmente o “meia-tigela” do
“Barato-Fino”. 2ª – A sua
confissão inadvertida: quando perguntada se matara Alda, a boca fugiu-lhe
para a verdade ao responder “na abafi”, isto é, “abafei” (sufocar), uma vez
que “afagui” (afogar) que era o que parecia aos olhos de todos, ainda que os
termos afogar e abafar sejam sinónimos não era nem é habitual ou corrente
usá-lo, entre o povo, para designar afogamento. Só se usa o termo abafar no
caso de sufocação. Ora, ao negar ter abafado a morta, está a evidenciar ter
conhecimento de um acto que só o abafador conhecia, por tê-lo praticado, uma
vez que só o médico, o Avô Palaló e o cabo André tinham essa suspeita,
posteriormente confirmada pela autópsia. 3ª – Requer um
pouco de imaginação da parte do decifrador, tanta como o Avô Palaló admirou
em Alda, a “imaginação e sangue-frio” perante a morte. Alda sabia, ao abrir a
porta e deparar com Isabel, a “bisarma” e com as suas ameaças de morte, que
não tinha hipóteses de escapar. Ainda tentou entretê-la dispondo-se a “ler as
cartas da sorte”, mas via morte nos olhos da outra. Rasgou ao meio a carta da
Tarot, que representa a “papisa” e amassou a última parte na mão, que
continha o nome da sua assassina, ISA = ISABEL, a “Zabel” do povo… única
esperança suficiente e inteligente para que se entendesse a ligação
carta-nome-assassina. Última nota: Alda
foi enterrada no cemitério de Almeirim, com o dinheiro encontrado no colchão
da cama, sendo o restante entregue à “Sopa dos Pobres”. Ao enterro, não tendo
sido encontrados familiares, compareceram somente as autoridades, e o Avô
Palaló. Alda conquistara, depois de morta, um admirador. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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