Publicação: “Público” Data: 8 de Fevereiro de 2015 Campeonato Nacional 2015 Taça de Portugal 2015 Provas
|
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2015 PROVA Nº 1 (PARTE II) UM CRIME NO ALENTEJO Autor: Rip Kirby Sete horas da tarde de um dia qualquer de um
qualquer mês de Dezembro no posto da GNR de uma vila qualquer do Alto
Alentejo. O telefone toca. A um canto da secretária dois pires de café, como
se fossem castiçais, continham, apagadas, cada um uma vela de cera meio
gasta. Na base das velas via-se os restos da cera que havia derretido. Lá fora, na rua, o temporal era medonho e o
contínuo ribombar dos trovões tornava difícil ao agente que atendeu a chamada
entender o que do outro lado da linha lhe era dito. Por fim lá conseguiu
entender o recado e respondeu laconicamente: vamos já mandar alguém para aí. Daí a momentos o agente estava transmitindo ao
segundo sargento que comandava o posto o recado que recebera. Numa vivenda situada
no final daquela mesma rua havia acontecido uma morte com toda a aparência de
crime. O sargento convocou dois agentes para o
acompanharem e dirigiu-se ao lugar indicado onde chegou cerca de dez minutos
mais tarde. Foi de imediato encaminhado por uma serviçal a um quarto de
dormir onde sobre a cama se via o corpo de uma senhora já idosa deitada sobre
o seu lado direito vendo-se na têmpora esquerda um ferimento, chamuscado e
com resíduos de pólvora, provocado por um tiro. O braço direito encontrava-se estendido numa
diagonal de cerca de 45o em relação ao corpo e na mão
correspondente, embora de modo precário, segurava um revólver. O segundo sargento concluiu que se tratava de um
crime o que foi confirmado mais tarde, tal como o revólver também foi
confirmado como sendo a arma do crime. O militar da GNR iniciou imediatamente as
diligências tendo em vista deslindar o caso, que talvez lhe viesse a valer
uma promoção. Começou por passar uma vista de olhos pelo quarto.
Sobre uma cómoda viam-se algumas imagens
religiosas iluminadas por três ou quatro velas quase completamente gastas,
mas ainda acesas. Sobre uma das mesas-de-cabeceira, para além de um
candeeiro, estava um tabuleiro com um bule de chá, uma chávena limpa sobre o
respectivo pires, um açucareiro, uma colher e um pires contendo uma torrada. Na outra mesa-de-cabeceira havia igualmente um
candeeiro, uma moldura com a foto de um casal e um relógio electrónico, em
cujo mostrador os dígitos piscando indicavam 00:40. Numa escrivaninha a um canto do quarto estava um
telefone. Às perguntas do sargento a serviçal respondeu:
“Eram quase sete horas quando vim trazer o chá à senhora. É costume vir às 17
horas, mas hoje não deu para isso. Quando entrei estranhei ver a senhora
deitada, mas só quando cheguei perto dela é que vi que estava morta. Pousei o
tabuleiro do chá sobre a mesa-de-cabeceira e telefonei para a guarda mesmo
daqui do quarto, depois desci e fui comunicar o caso aos meninos.” Os meninos
são os três sobrinhos da senhora. O sargento desceu para o rés-do-chão e foi
interrogar os sobrinhos da vítima. Leonardo respondeu: “Desde as 16 horas, quando a
tempestade se iniciou, que estive na varanda observando o fantástico
espectáculo que é uma tempestade como a de hoje. Só saí da varanda quando a
Fulgência me disse que a tia tinha morrido e que já havia telefonado para a
GNR. Ainda estive para subir, mas depois pensei que já não ia adiantar nada,
além de que descuidadamente poderia deixar algum vestígio que me comprometesse,
pelo que fiquei aqui na sala onde já estava o Paulo.” Paulo, que envergava um grosso roupão, disse: “Eu
ausentei-me logo a seguir ao almoço e só cheguei a casa perto das 17h. Nessa
ocasião já chovia a bom chover. Tomei um banho quente vesti o pijama e este
roupão e vim sentar-me na sala esperando que a Fulgência trouxesse o chá.
Creio que adormeci, pois não me lembro de nada a não ser de Leonardo
abanando-me e dizer-me que a tia tinha morrido. Ia correr para o quarto dela,
mas ele não me deixou.” O Vítor afirmou: “Após o almoço fui para o meu
quarto onde permaneci toda a tarde, fazendo um trabalho no computador. Só
quando a Fulgência me disse que a tia estava morta é que desci. Antes, porém,
fui ao quarto dela para me certificar de que a Fulgência não estava
equivocada depois juntei-me aos meus primos. Antes de se retirar o sargento pediu a Fulgência
que o levasse a ver os quartos dos rapazes. Todos os quartos se encontravam impecavelmente
arrumados. Apenas o quarto de banho de Paulo tinha o chão molhado e a um
canto, dentro de uma cesta, algumas peças de roupa molhada. O quarto de Vítor tinha o mobiliário exactamente
igual ao dos primos com apenas uma pequena diferença. A um canto havia uma
secretária sobre a qual se via um moderno computador de secretária que se
encontrava desligado. Como todas as evidências indicam que estamos
perante um crime quem dá uma ajuda ao segundo sargento para ganhar a sua
promoção dizendo que o criminoso foi: A – O Paulo B – A Fulgência C – O Vítor D – O Leonardo |
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
©
DANIEL FALCÃO |
|