Publicação: “Público” Data: 9 de Agosto de 2015 Campeonato Nacional 2015 Taça de Portugal 2015 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2015 PROVA Nº 7 (PARTE II) UMA HISTÓRIA DE ESPIONAGEM Autor:
?? Um mundo quase tão rico
como o dos pescadores e caçadores no que toca a histórias e aldrabices, é o da espionagem. Não o da verdadeira espionagem, mas
daqueles espiões de pacotilha, que logo aparecem debaixo de cada pedra e em
cada esquina, depois de tudo passar, claro, que a espionagem é feita de
secretismo… Londres, 1944, noite
escura, luzes apagadas que havia bombardeamentos à vista. Quatro vultos
sentados na penumbra, à luz mirrada de um pequeno foco pregado no tecto, por cima de uma mesa escura, trocavam piropos e
provocações, enquanto prosseguiam uma animada partida de cartas. O maldito
campeonato já durava há vários meses e parecia que ia ter o seu epílogo nesse
dia, quando um dos contendores atingisse a sétima vitória. John aparentava ser o
inglês típico, com dicção carregada, andara pela guerra, mas a idade não
perdoava e acabou por ter de recuar um bocado, para a trincheira da
espionagem, segundo afirmava e contava “só aos amigos mais íntimos”, porque
isto de ser espião tinha muito que se lhe dissesse! Faria tudo pelo sucesso
da sua pátria, incluindo a morte! Jack era irlandês e vivia
há muitos anos em Londres, segundo dizia, mas nunca deixou de ser um bom
irlandês e um bom espião ao serviço da causa da Liberdade contra os nazis.
Não conseguira ir para a frente da batalha por causa de maleitas antigas, mas
arriscava a vida todos os dias nas suas tarefas heróicas
da espionagem. Um herói incógnito, como convinha! Alex era um escocês que
bem poderia ser retirado da imagem de qualquer rótulo de garrafa de whisky.
Contava que a sua vida foi sempre ao serviço e muitas das maiores façanhas da
espionagem moderna tinham a sua marca. Nunca tentara combater nas tropas
porque a sua vida fora sempre mais para lutas discretas e muito sensíveis e
graças a si muitas vitórias tinham sido obtidas, a partir de informações
suas. Finalmente Eduard, um galês dos quatro costados, capaz de tudo pela
sua terra, mas sobretudo contra os nazis, que combateu até ser ferido, os
outros dizem que se foi ferido, foi só no orgulho, porque nunca pegou numa
arma. Mas ele insistia que sim e que depois se tornou espião, ao serviço de
Sua Majestade. Os quatro espiões, como se
fossem, cada qual à sua maneira, o James Bond, ali
estavam, a jogar às cartas uma supremacia que estava na cabeça de cada qual. Ao longe, ouviu-se o
barulho de passos apressados e logo depois o ruído intenso de uma porta
arrombada, caindo em mil pedaços, dando passagem a um grupo de militares
armados. Os quatro puseram-se
rapidamente em pé e, à voz de comando do oficial, elevaram os braços em
rendição: - Considerem-se detidos! –
gritou. - Detido, eu? Um herói
nacional e um fiel súbdito de Sua Majestade? - replicou
Eduard com a sua pronúncia característica. Eu, que já
fui ferido em serviço!? E com que acusação, posso saber? - Traição! É assim que
tratamos os espiões! E pelo menos um de vós é espião! Depois de revistados, já
sentados nos seus lugares, sob vigilância apertada, foram falando: - Seguramente, não sou eu!
Um ferido em combate, traidor? – insistiu Eduard cada vez mais irritado. - Muito menos eu com a
minha alma escocesa! Se há alguém que nunca se venderia, esse alguém, sou eu! Quem é da terra do whisky, quem é? Traidor,
jamais! - Não me digam que andei a
jogar com um traidor! Não posso acreditar, todos se armavam em heróis, mas o
único aqui sou eu! – afirmou o Irlandês. Eu já
desconfiava de tanto heroísmo. Acho até que não há aqui um traidor, mas mais… - Eu sou bem inglês e
ninguém me chama traidor, muito menos agora, que estava prestes a ganhar este
jogo e completar esta coisa que dura há tanto tempo! – gritou,
visivelmente irritado John enquanto partia o bico do lápis de tanta força
fazer ao traçar o sete, completando o desenho do número. - De qualquer das formas,
ganhei, cambada de traidores, quem joga como eu merece ser campeão! O oficial elevou a voz e
revelou: - Há aqui um traidor e ele
é… A
– John B
– Jack C
– Alex D – Eduard |
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©
DANIEL FALCÃO |
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