CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2015
PROVA Nº 2 (PARTE II)
AS RIQUEZAS DESAPARECIDAS
Autor: Faraó
A mansão era imponente, situada em lugar de
relevo, no cimo de um cabeço cuidadosamente arrelvado, rodeado de vegetação
luxuriante e bem tratada.
Foi construída por um nobre de
ascendência inglesa, um viajante inveterado que se apaixonou pela ancestral
cultura egípcia, tendo andado em escavações algures pelo Nilo, até a idade o
conduzir até este local repousado, onde fez construir a mansão e terminou os
seus dias.
Agora eram os filhos quem a
habitavam, tendo mantido praticamente toda a traça original e a decoração que
o pai introduzira, com baixos-relevos egípcios, peças artísticas e objectos
de gosto duvidoso, todos vindos da terra das pirâmides, provavelmente à
revelia das autoridades.
No cofre, situado na biblioteca, a
fama fazia constar que havia documentos e preciosidades que ultrapassavam a
imaginação e todas as pessoas que passavam pela mansão, em trabalho ou em
visita social, eram levadas a acreditar que havia uma enorme fortuna por
detrás daquelas portas pesadas e resistentes, praticamente inexpugnáveis para
quem não dispusesse da chave milagrosa e do segredo.
Naquele dia, Jack regressou de
Londres, fez uma paragem em Lisboa, para efectuar algumas compras que
programara, antes de se dirigir para a mansão, onde foi saudado pelos irmãos,
John e James. Mas a vedeta maior deste reencontro foi o cãozito, ainda
pequenote que Jack trouxe, adquirido numa loja de Lisboa.
– Olhem só para este cão e vejam se
não vos desperta nenhuma recordação…
– Jack, é igual aos cães que aparecem
nas tumbas que o pai estudava!
– Tal e qual! Tinha de o trazer,
parecia que me pedia para o adoptar! Digam olá ao Enji!
Nessa noite, cálida e serena, depois
do animado jantar, servido pela velha criada que já vinha dos tempos do pai, cada
um foi à sua vida. A criada recolheu à cozinha, depois de levantar a mesa;
John foi para a sala de estar, assistir a um programa televisivo que não
pretendia perder; James subiu ao seu quarto, no piso superior, porque queria
ver se uns e-mails urgentes haviam chegado; Jack instalou a coleira no Enji e
levou-o a passear pelo relvado.
Algum tempo depois, uma gritaria
irrompeu do escritório. A velha criada viu o cofre aberto, vazio e alguns
papéis espalhados pelo chão e viu logo que alguma coisa de anormal se
passava, porque sabia que “os meninos” eram muito organizados e, em tantos
anos, nunca vira tal coisa.
Um a um, foram chegando, primeiro
John, que estava na sala ao lado, depois James, alertado pelos gritos e
finalmente Jack, com o Enji.
As jóias, os objectos de ouro, o
dinheiro, tudo desapareceu. Só os títulos e escrituras ficaram espalhados
pelo chão.
Não havia marcas de arrombamento no
cofre ou nas janelas, que estavam todas fechadas por dentro.
John: Estive na sala de estar a ver o
meu programa de televisão favorito. Quando acabou, fui um pouco até lá fora,
apanhar o ar fresco e vi o Jack a passear o Enji, saindo o portão com um saco
do lixo na mão. Fiquei algum tempo lá fora, ao fresco e quando o Jack já
fechava o portão, ouvi os gritos da Maria e corri para a biblioteca. Ela
estava em pranto por ter visto o cofre vazio e os papéis espalhados. Vi logo
que houve um roubo. Cada um de nós tem uma chave do cofre, que anda sempre
connosco e sabe o segredo. Como é que o ladrão entrou e abriu o cofre, não
sei. É muito estranho.
James: Estava no meu quarto a
consultar e-mails e a navegar na net quando ouvi os gritos da Maria. Desci as
escadas e ao chegar à biblioteca já lá estava o meu irmão John. É claro que
tenho chave, que anda sempre comigo e sei o segredo, tal como os meus irmãos.
Não percebo como é que algum ladrão conseguiu abrir o cofre, ou então alguém
se esqueceu de o fechar, mas não eu porque há muito tempo que não o abro.
Jack: Fui passear o Enji. Aproveitei
para levar um saco com lixo para meter no contentor que fica do outro lado da
rua. Lá, o Enji ouviu alguma coisa e desatou a latir. Ouviu alguma coisa e
agora vejo que se calhar era o ladrão a fugir, mas custa a acreditar. Quando
estava a fechar o portão, vi o John à entrada da casa e logo depois vi-o
correr para dentro. Ao entrar, vi a agitação na biblioteca e soube do roubo.
Não sei bem o que lá estava dentro. Estive estes dias em Londres, mas o meu
irmão já me disse que as jóias, os objectos de ouro e o dinheiro
desapareceram. A chave está sempre comigo e conheço bem o segredo, tal como
os meus irmãos.
Nenhum deles sabia bem se o seguro
cobria ou não os danos, porque ainda era do tempo do pai. Mas a convicção de
todos era que não, porque alguns dos objectos de ouro eram muito valiosos,
mas obtidos pelo pai de modo pouco claro, trazia-os das escavações e por isso
não acreditavam que uma companhia de seguros aceitasse coberturas assim.
O visionamento das filmagens, das
câmaras de vigilância, que controlavam o jardim, não revelou qualquer presença
estranha, se bem que houvesse um ou outro ponto morto.
Quem terá roubado o conteúdo do
cofre?
A – John
B – Jack
C – James
D – Um ladrão do exterior
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