Publicação: “Público” Data: 10 de Maio de 2015 Campeonato Nacional 2015 Taça de Portugal 2015 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2015 PROVA Nº 4 (PARTE II) D. PAYO QUE ESTÁS NO CÉU Autor: A. Raposo &
Lena Como os meus amigos muito
bem sabem e se não sabem ficam a saber, D. Payo um
ilustre e antigo português dos sete costados foi assassinado. Ele que era
amigo e companheiro de armas do que viria a ser rei o Mestre de Avis. E tal facto não sucedeu
somente para que um problema policial se fizesse. Nada disso. D. Payo foi assassinado e nunca se soube quem o matou. Muito
menos o porquê. O como ainda foi possível coligir. Foi assassinado com um
punhal que lhe entrou nas costas apanhou o carinhoso coração e faleceu
definitivamente. Atendendo à sua posição
social, à feitura de obras pias, e ainda à indesmentível fé, seguiu para o
Céu, sem favores, sem cunhas, simplesmente por mérito próprio. Foi uma entrada direta,
sem paragens ou desvios. Homens como D. Payo,
raramente se encontram mesmo procurando muito. Quando chegou ao Céu,
introduziu nos hóspedes o gosto pelas artes. A harpa e a dança passaram a ser
o passatempo mais useiro. Porém, andar a tocar harpa,
saltitando de nuvem em nuvem também satura. Com o passar dos anos começou a
chegar o pessoal que vinha do limbo onde havia há imenso tempo obras.
Começaram todos a ficar apertadinhos e aborrecidos como sucedeu
posteriormente nas urgências dos hospitais do SNS. A malta do limbo era
rebelde e não acatava as ordens. Aos poucos o Céu era um autêntico Inferno. Muita gente ligada ao
empréstimo de dinheiro a juros, e até consta que o jogo da “vermelhinha” já
era praticado às escâncaras pois o Mestre S. Pedro estava com cataratas e
tudo lhe passava ao lado. A rapaziada chamava ao jogo da vermelhinha o “Banco
bom” vá-se lá saber porquê. D. Payo
bem tentava manter o nível, mas em vão, as más condutas tinham substituído os
bons costumes. E é já nesta fase de bagunça que aparece um personagem que vem
estragar ainda mais o clima. Do Convento da Conceição
de Beja, apresentava-se a freira D. Mariana Alcoforado. Uma figura cuja guia de
marcha indiciava uma senhora virgem e pura. Causa mortis:
Amor não correspondido. Além de cartas de
recomendação trazia na ponta da língua uma história que não condizia muito
com a condição de freira. E não teve o menor pejo em
acusar D. Payo (que aliás afirmou não a conhecer de
lado nenhum) de ser um femeeiro do piorio e ter desgraçado, lá no Convento,
três noviças, duma assentada. D. Mariana afirmou e jurou que era verdade e
ela própria observou, escondida atrás da porta da sacristia. D. Payo
nem sabia como se defender. Afirmou que nem conhecia Beja. Tampouco Mariana e
não era homem para essas coisas. Apresentava-se como um respeitador de
virtudes, com um passado por todos reconhecido. Nos
tempos escolares tinha por alcunha o “rebuçado de alteia e mel”, entre a
estudantada. Mas nada melhor que um
pequeno escândalo para arrebitar as orelhas ao pessoal e o pior é quando o
individuo é condenado na praça pública. Acaba politicamente morto e o pior
ainda poderia surgir: as fugas de informação que passavam entre as nuvens. O pessoal sabia que D.
Mariana Alcoforado tinha fama de alcoviteira, tinha a mania de escrever umas
coisas e apesar de estar no Convento desde os 12 anos, constava que tinha
tido um amor com um nobre. Talvez um amor platónico. Nestas coisas o melhor é
não dar importância ao diz que disse pois até nós gostamos de uma história
com um bom escândalo mas não gostamos que se saiba. Por isso: cala-te boca. Pergunta-se aos nossos
leitores e pede-se que escolhem a frase verdadeira dentre as seguintes: 1 – D. Payo está inocente. 2 – D. Payo é culpado dos delitos apontados pela freira. 3 – Dona
Mariana Alcoforado diz-se que se enamorou dum Marquês Espanhol. 4 – Consta
que o livro “les lettres françaises” foi escrito pela Mariana Alcoforado. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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