Publicação: “Público” Data: 11 de Outubro de 2015 Campeonato Nacional 2015 Taça de Portugal 2015 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2015 PROVA Nº 9 (PARTE II) UM MILHÃO SE MATA, UM MILHÃO SE MORRE Autor: Karl Marques As primeiras indicações
seriam que não falecera logo de imediato, a avaliar pelo sangue derramado
pelo chão. Mesmo assim não teria sido muito tempo, a primeira chamada de um
vizinho, a assinalar movimentações estranhas na casa (um carro parado nas
discretas traseiras, alguém que entrara pelas mesmas traseiras e ocultando o
ruído, sem acender qualquer luz, e um som que parecia ser de coisas a tombar)
fora pelas 21h20. O mesmo vizinho insistiria menos de 10 minutos mais tarde,
assinalando a saída do estranho visitante, a GNR chegaria pelas 21h45 àquela
aldeia com cerca de uma vintena de casas (conhecida localmente como Casal
Perdido (nome não oficial), metade desocupadas, e a 4 kms
de uma estrada mais movimentada (e única saída da aldeia “via alcatrão”). Entraram na casa, mas
apenas depois de encontrarem a porta aberta nas traseiras, quando chegaram ao
corpo este era já cadáver. Encontrava-se a um canto da sala, com parte do
corpo ainda encaixado numa cadeira de secretária “com rodinhas”, corpo e
cadeira tombados. Eram visíveis no peito e nas costas as lesões causadas pela
perfuração da bala. A sala em si parecia despida de mobiliário com excepção dos equipamentos instalados numa secretária
muito grande onde um monitor (ligado), um teclado, rato, colunas e até uma
impressora, partilhavam o espaço com alguns papéis soltos, meio rabiscados.
Teclas do teclado soltas e desfeitas chamaram a atenção para a existência de
uma bala onde deveria estar um G e um H. Causou um susto valente
nos presentes quando de súbito começou a ouvir-se “como uma força, como uma
força”, vindo do cadáver. Atrás do corpo da vítima, junto à sua mão esquerda,
foi encontrado um telemóvel. Alguém atendeu, por impulso irrefletido, e a
chamada terminou de imediato. Finda a chamada foi visível no ecrã manchado de
sangue 22454603. Em análises posteriores não se encontraram no telemóvel da
vítima quaisquer contactos com aquele início, assim como não se verificou
qualquer chamada feita para qualquer número com aquele início. O vizinho que chamara a
GNR informou que conhecia mal a vítima, secundado pelos outros habitantes da
aldeia que entretanto se juntaram, chegara ao lugar à coisa de 5 meses e
pouco ou nada sabiam, pois pouco comunicava com eles. Saía frequentemente de
casa, no seu carro, e era isso o, pouco, que sabiam. A maior comunicação que
tivera havia sido com o neto de um dos residentes, estudante universitário
“de computadores” e com havia ainda partilhado o seu entusiasmo por tudo o
que fosse tecnologia, considerando-se um indivíduo do século XXII disposto a
usar tudo aquilo que o homem atribuísse à máquina para facilitar a vida do
humano. O vizinho não conseguira perceber nem a cor nem a marca do veículo,
apenas que era um veículo “dos mais pequenos”. Viria a apurar-se que a
vítima se chamava Albano Milhão, e que era um detetive profissional. Oriundo
de Braga refugiara-se naquela aldeia por precisar de se isolar por estar a
tratar de um caso muito delicado, que lhe ocupara sensivelmente os últimos 7
meses. Contratado por um industrial (que assumiu depois ser o autor da
chamada para o telemóvel da vítima, que desligou por receio sobre de quem
seria aquela voz) para investigar um concorrente, o tópico viria a tornar-se
muito mais perigoso do que esperava. Por coincidência, nessa
noite, a 14 kms da aldeia, ocorrera um acidente que
envolvera, apenas com danos materiais ligeiros, quatro “carros pequenos”. Os
quatro condutores, que viajavam sozinhos, foram interrogados pelos agentes
que se dirigiram ao local para tomar conta da ocorrência, mas que eram já
conhecedores do assassinato entretanto ocorrido. Albino Um: era do Porto e
estava em trânsito vindo de Espanha. Fora em trabalho levar uma encomenda a
Madrid. Disse não saber do que seria a encomenda, pois ele limitava-se a
transportá-las. Forneceu, muito a contragosto o contacto de quem o
contratara, tendo essa entidade, de forma muito receosa, fornecido qual o
destino da encomenda. Quando questionado sobre Casal Perdido disse não ter
por hábito fazer paragens em terras desconhecidas. Embora os outros
envolvidos o considerassem o responsável ele estava renitente em dar-se como
culpado. Disse não conhecer sequer ninguém de apelido Milhão. Veio a
apurar-se ter cadastro de pequeno tráfico. Abílio Dez: Afirmou ter
até estado uma vez em Casal Perdido, num acampamento feito com escuteiros na
adolescência. Mas que não lá voltara entretanto. Mas Milhão não conhecia. Era
de Aveiro e fora visitar um amigo a Viseu. Aceitou fornecer a identidade e
contacto do amigo. Não tinha cadastro. Acácio Cem: Era da Feira e
tinha-se ido despedir da amante, e pedia encarecidamente para não o revelarem
à mulher. Não podia fornecer o número da amante pois ela ia precisamente
embora para sempre, e não quisera deixar-lhe contacto. Estava ainda muito
transtornado, pois ele pensava até deixar a mulher. Concluía agora que nem
sequer sabia se o nome da amante era verdadeiro. E sim, estivera duas vezes
em Casal Perdido, por razões profissionais (era geólogo), mas qualquer uma
dela há já algum tempo. Também não conhecia Milhão. Cadastro não tinha. André Mil: Era de Viana do
Castelo. Afirmou não conhecer Casal Perdido, mas que até julgava conhecer
Albano Milhão. Um amigo seu pedira-lhe uma vez para o acompanhar a uma
entrevista com o detetive (desconfiava de um sócio), mas nessa altura Milhão
tinha escritório em Braga. Estava na zona a preparar um jogo de pista a
propor como atividade aos colegas do seu local de trabalho daí a algumas
semanas. Tinha uma condenação, já antiga, por condução sem carta de condução. Estes dados e posteriores
confirmações permitiram concluir que o assassino foi: 1 – Albino Um 2 – Abílio Dez 3– Acácio Cem 4 – André Mil |
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©
DANIEL FALCÃO |
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