Publicação: “Público” Data: 5 de Julho de 2015 Campeonato Nacional 2015 Taça de Portugal 2015 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2015 PROVA Nº 6 (PARTE I) ACONTECEU NA NOITE DE S. JOÃO Autor: Quaresma,
Decifrador A noite estava a decorrer
dentro da normalidade, com muitas marteladas e muito alho-porro, não fazendo
prever o que me iria acontecer passados poucos minutos. Lá ia eu, deambulando
por entre a multidão que naquela noite se divertia na ribeirinha da cidade
invicta, quando se aproxima de mim uma bela jovem ruiva. Os seus olhos
focaram-se nos meus, fazendo-me sentir uma leve tontura, e quando já estava
suficientemente próxima, desferiu uma martelada que me obrigou a cerrar os
olhos. Quando os voltei a abrir,
tudo estava diferente. Já não me encontrava na rua. Em vez disso, estava
sentado a uma mesa no interior de um café. Um local estranho, rodeado de
pessoas estranhas. Quando olhei para o exterior, pela porta aberta, vi
algumas pessoas, poucas, de martelo na mão, a desferir os golpes habituais da
noite de S. João. “Não sei onde estou, mas
continua a ser a noite de S. João” – lembro-me de ter pensado. Numa mesa ao lado, dois
jovens debatiam um tema que os afligia. Falavam de um conflito que tinha
deflagrado em Angola, meses antes, produzindo uma imediata resposta do estado
português. Pelo que entendi, parecia que um grupo para a libertação de Angola
tinha atacado as forças portuguesas lá estacionadas e os jovens temiam ser
mobilizados para participar nesse conflito. Surpreendido com o que
acabara de escutar, dei por mim a olhar na direção de uma parede onde estava
pendurado um calendário. Quando olhei com mais atenção,
exclamei: “Não pode ser! Como vim aqui parar?” Enquanto procurava
observar as circunstâncias que me envolviam, apercebi-me que um outro debate
aceso decorria numa mesa mais afastada entre quatro homens que pareciam já
ter entornado uns copos de um bom vinho de uma casta duriense. “Achas tu que há alguma
dúvida?” – perguntava um deles. “Claro que o
padroeiro da cidade é o S. João…“ “Só mesmo tu para
acreditares nisso. Pois digo-te que, por muito estranho que possa parecer, a
nossa cidade do Porto partilha o mesmo padroeiro da cidade de Lisboa…” –
disse um outro – “… S. Vicente!” Enquanto os dois homens
que falaram, argumentavam e contra-argumentavam, os outros dois sorriam entre
eles, até que um interveio. “Sabem o que vos digo? O
padroeiro da cidade do Porto é S. Pantaleão.” “S. Pantaleão?” – perguntaram em uníssono os dois homens que tinham falado
anteriormente. “E quem é esse?” “S. Pantaleão foi um
cristão martirizado pelos turcos aquando da invasão da Arménia no século XV.
Pelo que me foi contado, o corpo de S. Pantaleão foi trazido para a cidade do
Porto por um grupo de cristãos que fugiu depois da invasão e foi enterrado
junto à Sé Catedral onde se encontra até hoje. Acontece que no ano em que
trouxeram o corpo quase toda a cidade do Porto foi afetada por uma peste
terrível, exceto as pessoas que residiam na proximidade da catedral, onde ele
estava enterrado. Imediatamente atribuíram isso a um milagre de S. Pantaleão
e ele passou a ser o padroeiro da cidade” – explicou o terceiro homem. “E tu não dizes nada?” – perguntaram ao quarto homem. “Não sei se deva dizer
alguma coisa ou se não será melhor estar calado” – respondeu. “Mas, pensando melhor,
talvez valha apenas dizer-vos, para vossa informação, que o Porto tem uma
padroeira há quase um milénio, embora tenha sido entronizada apenas em 1954,
por D. António Ferreira Gomes…” Precisamente no momento em
que estava completamente absorto nesta conversa, senti uma dor imensa na
cabeça, que me obrigou a agarrá-la com as duas mãos e cerrar os olhos. Desta vez, já não fiquei
tão surpreendido quando os voltei a abrir. Pelo contrário, tinha à minha frente uma jovem ruiva, assustada. “O senhor
sente-se bem?” – perguntou-me ela. Ao mesmo tempo que me
sentia preocupado pelo que me acontecera, também estava curioso pelo final
daquela conversa. Embora tivesse noção que algumas das coisas que eu
vivenciara nesta estranha “viagem” não batiam certo, também gostava de ter
escutado o quarto homem, pois parecia que algumas delas iam ser esclarecidas. Será que o leitor pode
esclarecer tudo aquilo que não bate certo? |
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©
DANIEL FALCÃO |
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