Publicação: “Público”

Data: 11 de Fevereiro de 2018

 

 

Campeonato Nacional 2018

Taça de Portugal 2018

 

Provas

 

 

Parte I

1

Parte II

 

 

Parte I

2

Parte II

 

 

Parte I

3

Parte II

 

 

Parte I

4

Parte II

 

 

Parte I

5

Parte II

 

 

Parte I

6

Parte II

 

 

Parte I

7

Parte II

 

 

Parte I

8

Parte II

 

 

Parte I

9

Parte II

 

 

Parte I

10

Parte II

 

 

 

 

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2018

 

PROVA Nº 1 (PARTE II)

 

A MORTE DO REI DOS QUEIJOS

Autor: Rui Lopo

 

Assim que o agente da polícia entrou na sala, viu em cima da mesa uma folha de papel virada para uma cadeira vazia, com uma palavra: SIM.

No outro lado da mesa estreita, estava o corpo da vítima, um industrial de queijos e manteigas, muito conhecido também por ter grandes rebanhos que lhe davam as matérias-primas para fabricar produtos que todos diziam únicos e especiais. Estava sentado na cadeira oposta à vazia e o seu tronco estava caído sobre o tampo, com o braço estendido na direcção da folha de papel. Entre os dedos, um pequeno lápis, com o qual (confirmou-se posteriormente) escrevera a estranha anuência.

O agente fez a análise de todos os elementos que constavam na pequena divisão, não encontrando nada de significativo. Aparentemente o “queijeiro americano”, como era conhecido por ter vivido emigrado durante décadas nos Estados Unidos, no Estado que mais produzia manteiga e queijos, teria morrido de ataque cardíaco, mas a autópsia veio mostrar que tinha marca de uma picada no braço direito e que um veneno lhe tinha sido ministrado, que lhe foi paralisando os movimentos até à sua morte.

Interrogou a empregada que fazia as tarefas da casa e cozinhava para a vítima. Ela não se apercebeu de nada de anormal nesse dia e referiu que o senhor recebeu a visita de quatro pessoas ao longo dessa manhã. Não se recorda por que ordem, mas sabe que estiveram com ele o Simão, empregado da fábrica e que mantinha com ele um litígio sobre a maneira de fazer um dos queijos; o Simões, um rapaz que estava à procura de trabalho e a quem o empresário terá recusado a admissão, pelo menos por agora; o Simas, que era como um filho para ele, mas que não era “grande rês” ao que todos referiam, explorando o velho, “a torto e a direito”; o Simmer, um visitante desconhecido de todos, que chegara na véspera, um americano que foi seu antigo colega na América e que, ao eu parecia, vinha atrás de um segredo qualquer que só o velho conhecia para dar características únicas a um certo tipo de queijo.

Já depois de retirado o corpo, o agente ficou mais uns momentos no escritório, pensativo. Sabia que alguém atentara contra a vida do empresário dos queijos e que mais ninguém para além daqueles quatro candidatos pudera ter acesso aos meios para lhe terminar a vida. A empregada estava fora do rol de suspeitos.

Pausadamente, sentou-se na cadeira que permanecera vazia na frente da vítima, com a folha de papel ali mesmo, em frente de si, com a palavra misteriosa desenhada com o lápis retirado de entre os dedos da vítima: SIM.

Estaria já debilitado ao ponto de não conseguir acabar o nome, ou o que ele queria escrever era mesmo aquilo? Ou seria o caso de estar a dar uma resposta ao seu interlocutor, respondendo que sim a uma qualquer questão a que já não conseguia responder vocalmente?

Tivera a oportunidade de falar com todos eles e nada de significativo foi revelado. Todos eles estavam chateados com o empresário, cada qual com os seus motivos, mas nenhum parecia ter motivos para o matar. Afinal, cada um deles precisava que a vítima estivesse cá para obter aquilo que queria! Até o “camone” que veio para sacar um segredo “milagroso” ao seu antigo colega, não adiantava nada com a sua morte…

Para si, agente experiente, era nova a situação. Sempre tivera um suspeito mais ou menos óbvio, mas agora não tinha nada. Certamente que o seu amigo de longa data e inspector da Judiciária, ia deslindar a situação, rapidamente. Era nestes pormenores que sentia as suas deficiências de investigação, que sempre impediram a sua entrada na polícia dos seus sonhos e o mantiveram onde está…

O seu amigo inspector sorriu durante um momento breve e não perdeu tempo em lhe dizer:

– Meu caro, andas à procura de um bom motivo, mas não o saberás se o responsável pela morte to não disser! Andas à procura de uma prova, mas pode não haver nada para descobrires. Só tens um morto, envenenado, uma folha de papel com três letras apenas e uma decisão para tomar… O responsável pela morte foi:

 

A – Simmer;

B – Simas;

C – Simões;

D – Simão.

 

© DANIEL FALCÃO