Publicação: “Público”

Data: 12 de Agosto de 2018

 

 

Campeonato Nacional 2018

Taça de Portugal 2018

 

Provas

 

 

Parte I

1

Parte II

 

 

Parte I

2

Parte II

 

 

Parte I

3

Parte II

 

 

Parte I

4

Parte II

 

 

Parte I

5

Parte II

 

 

Parte I

6

Parte II

 

 

Parte I

7

Parte II

 

 

Parte I

8

Parte II

 

 

Parte I

9

Parte II

 

 

Parte I

10

Parte II

 

 

 

 

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2018

 

PROVA Nº 7 (PARTE II)

 

O RUBI

Autor: Rigor Mortis

 

O agente Rogério Viriato sentia-se confuso e ansioso… Era a primeira vez que tinha sido responsabilizado pela resolução de um crime e as coisas não estavam a andar bem, com a balbúrdia que aqueles malditos actores faziam…

– Senhor detective! Tem que resolver isto rapidamente, daqui a pouco temos que começar o espectáculo! – reclamou o director de cena.

– Eu não actuo sem que se descubra o meu rubi! – gritou Marlene, a actriz principal, em voz estridente.

– Calma, Marlene – disse Ruby, a actriz secundária, acidamente – não te excites!

– Não havia ela de arranjar uma confusão qualquer!... – exclamou o contra-regra, em tom zombeteiro.

– Com rubi ou sem rubi, temos é que começar o espectáculo! – berrou Marco, zangado e frustrado, o actor que contracenava com Marlene nas cenas principais da peça.

Rogério Viriato sentia-se impotente para controlar toda aquela barafunda. Tinha sido mandado ao teatro, nesse princípio de noite, para investigar o roubo de um rubi, jóia que Marlene muito apreciava e que tinha desaparecido de uma caixa no seu camarim. A actriz tinha dado pelo roubo quando se aprestava para se maquilhar para a representação dessa noite. Precisava absolutamente dele para os dois primeiros actos, e garantia tê-lo arrumado devidamente na véspera, precisamente no fim do segundo acto. No fim do espectáculo, acrescentou, fechou à chave tanto a caixa das jóias como o próprio camarim.

Fazendo recurso a todas as suas energias, o agente Viriato pediu, em voz forte:

– Digam-me lá o que aconteceu ontem no terceiro acto!

– O costume, senhor detective, apenas o costume! – respondeu o director de cena, com impaciência. – O acto começa com um diálogo entre a Marlene e a Ruby, com o Marco no fundo do palco, alheio à conversa, no fim do qual elas se zangam. Ruby sai de cena e o Marco aproxima-se da Marlene, com quem tem um longo diálogo de amor, que conclui com ele a dizer que tem que partir para longe. Marco sai e Marlene tem um monólogo triste e trágico, no fim do qual morre no palco. Cortinas, palmas e os três regressam ao palco para agradecer ao público. Pronto!

Os três actores começaram novamente a falar, todos ao mesmo tempo, acrescentando pormenores à descrição do director de cena, enquanto o contra-regra resmungava em voz baixa, de semblante carregado:

– Como se tudo isso tivesse alguma importância!... Actores de terceira!... Só o que eles fazem é que lhes importa!...

Dos comentários dos actores, Viriato apercebeu-se dos ciúmes de Ruby e Marco relativamente a Marlene, bem como do desprezo que o contra-regra dedicava a qualquer deles.

– Ruby – perguntou Viriato – você roubou o rubi da Marlene?

– Que disparate! – respondeu Ruby – Não gosto de jóias! Para que o quereria?! Mas é bem feito que ela tenha ficado sem o seu bijou… Para aprender!...

– E você? – perguntou Viriato ao contra-regra.

– Não o desprezaria… Mas como o poderia ter feito? Estive sempre aqui ao lado do palco durante toda a peça e Marlene fecha sempre o seu camarim antes de se ir embora e só ela tem essa chave.

– E você, Marco?

– Bem jeito me dava, para o pôr no prego!... O que me pagam pelo meu excelente papel de actor mal me dá para viver…

– No prego? – retorquiu o director de cena. – Não recebias grande coisa… O rubi era falso, não valia cinquenta euros… Sabem bem que fui eu que o ofereci à Marlene, pelo seu enorme êxito na nossa última peça.

O contra-regra mostrou claramente a sua surpresa pela afirmação do director, e Marco limitou-se a fechar ainda mais a cara. Ruby comentou, com sarcasmo, dirigindo-se à Marlene:

– Também não merecias mais!

 Marlene exibiu um sorriso irónico e comentou:

– Mas era bem bonito!...

 

Que acha, caro leitor? Quem terá roubado o rubi da Marlene?

A – A própria Marlene.

B – A Ruby.

C – O Marco.

D – O contra-regra.

 

© DANIEL FALCÃO