Publicação: “Público” Data: 2 de Setembro de 2018 Campeonato Nacional 2018 Taça de Portugal 2018 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2018 PROVA Nº 8 (PARTE I) O ANTICRISTO Autor: X. Boavista Arrombaram
com estrondo a porta de entrada! Entraram cautelosamente! De armas na mão!
Estavam finalmente dentro da casa de um dos principais suspeitos dos
terríveis homicídios que tinham acontecido recentemente em Portugal, todos
com a mesma marca, deixada em sangue no corpo das vítimas – O ANTICRISTO! Por toda
a casa havia sinais indeléveis de que o suspeito era realmente o assassino em
série que há tanto perseguiam, cruzes de ferro retorcidas, desenhos e
pinturas imperfeitas com representações do demónio, do céu, do sacrifício de
Jesus, reproduções toscas do Juízo Final de Michelangelo e do Inferno de um
Mestre português desconhecido do século XVI. Era realmente um cérebro afetado
por distorções psicológicas de dogmas religiosos. De repente
o estagiário Félix grita do sótão: – Depressa! Subam! Subam! Vejam isto! Quando
lá chegaram depararam-se com imensas fotografias, desenhos, mapas, plantas de
edifícios e quintas, espalhados em cima de mesas, pelo chão, pregados e
colados nas paredes, e todos eles apontavam para todos os assassinatos que
tinham sido perpetrados até então pelo auto assinado O ANTICRISTO. Lá
estavam as fotografias e plantas detalhadas das quintas onde tinham sido
mortas as quatro primeiras vítimas. A
coudelaria de Portel onde tinha sido encontrado morto um cavalo branco e
junto dele o respetivo dono com uma coroa enfiada na cabeça e um arco no chão
perto do corpo. A de
Ourique onde se tinham deparado com um cavalo vermelho de sangue esfaqueado
várias vezes no pescoço e abdómen e o proprietário jazendo perto com uma
espada na mão. A da
Quinta dos Montes onde um cavalo preto tinha sido abatido e o seu tratador
esfaqueado até à morte e uma balança perto da mão direita. Também
estava a fotografia do estábulo onde tinham enfrentado a horrível situação de
um cavalo pálido morto, amarelado ou esverdeado, e ao seu lado um homem todo
nu que, além de ter como todas as outras vítimas a palavra ANTICRISTO escrita
a sangue no peito, tinha também PESTE escrita na testa com uma navalha
afiada. Claro
que nessa altura já toda a Polícia Judiciária, e o Inspetor Sousa Pinto, em
particular, tinham associado aqueles homicídios a um assassino em série que
queria matar e deixar a sua marca em homicídios que apontavam para Os Quatro
Cavaleiros do Apocalipse. Era óbvio! No
entanto as mortes tinham continuado, com a mesma assinatura macabra das
anteriores, e no sótão onde estavam, lá se encontravam também as fotografias
e plantas dos locais onde foram cometidos os outros dois assassinatos que tinham
sido cometidos depois dos que tinham visto anteriormente. O mosteiro de
Amarante onde tinham encontrado morto um religioso que também estava nu por
baixo, apenas vestido com uma comprida bata branca por cima do corpo.
Pregadas na parede do fundo fotografias do Museu de Arte Antiga em Lisboa
onde recentemente, em abril de 2018, tinha sido assassinada a última vítima
com “assinatura” ANTICRISTO junto à tela de João Glama,
conhecida pelo nome “O Terramoto de 1755”. Entretanto,
o Inspetor Sousa Pinto reparou que num canto escuro do sótão estavam
fotografias que lhe pareceram ser de uma mata ou parque. Chamou
os outros inspetores e perguntou: – Sabem que parque é este, aqui, desta
fotografia? E logo
Félix gritou: – Mas esse é o Parque dos Olivais, perto de onde eu moro,
também conhecido como Mata do Silêncio! E logo o
Inspetor Sousa Pinto gritou: – Todos
para o Parque dos Olivais! Félix! Telefona para a sede para enviarem reforços
para o Parque, pede-lhes para montarem um esquema de defesa muito discreto. Não
podem dar nas vistas, pois vamos apanhar o nosso homem em flagrante delito… e
se não o conseguirmos apanhar no Parque, eu já compreendi todo o “fio da
meada” e o que se poderá seguir… Qual era
o “fio da meada” a que Sousa Pinto se estava a referir? Como encaixam os
homicídios cometidos nesse “fio da meada”? E o que é que se poderá seguir,
segundo o Inspetor Sousa Pinto? |
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©
DANIEL FALCÃO |
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