Publicação: “Público”

Data: 8 de Abril de 2018

 

 

Campeonato Nacional 2018

Taça de Portugal 2018

 

Provas

 

 

Parte I

1

Parte II

 

 

Parte I

2

Parte II

 

 

Parte I

3

Parte II

 

 

Parte I

4

Parte II

 

 

Parte I

5

Parte II

 

 

Parte I

6

Parte II

 

 

Parte I

7

Parte II

 

 

Parte I

8

Parte II

 

 

Parte I

9

Parte II

 

 

Parte I

10

Parte II

 

 

 

 

CAMPEONATO NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2018

 

PROVA Nº 3 (PARTE II)

 

A SAGA DAS GIRAFAS INCÓMODAS

Autor: FIPQ

 

Há vários anos que morava naquele primeiro andar, um primeiro andar como outro qualquer, mas que tinha uma particularidade, tinha como vizinhos um parque temático, gerido por uma associação que cuidava e criava girafas.

Eram girafas verdadeiras, de carne e osso, que toda a vizinhança encarava com naturalidade. Mas ele tinha uma vantagem, como morava no primeiro andar, as janelas ficavam à mesma altura das girafas maiores e por isso era frequente abrir uma janela e ter de cumprimentar um dos animais mais afoitos. Mesmo os seus filhos já se habituaram a ter um saco com feno ao lado da janela e todas as manhãs, ao acordarem, abrem a janela e dão-lhes alguns pedaços, que elas agradecem. Uma delas chegou a dar pequenas marradas no vidro quando se atrasaram na refeição!

Durante anos nunca houve problemas, mas chegou um dia em que se mudou para um dos apartamentos um indivíduo que começou a complicar as relações com os animais, com queixas frequentes sobre muitos dos comportamentos das girafas, a começar com o mau cheiro, depois com as moscas e mosquitos, mais tarde com o barulho que faziam ao baterem com as patas no chão ou com as lutas de pescoços e a culminar na denúncia dos gritos fortes que os animais libertavam de noite, certamente nas suas actividades de acasalamento.

A situação começou a ficar complicada, com o dito indivíduo a marcar reuniões de condomínio na tentativa de conseguir uma posição conjunta contra a presença dos animais, para que fosse possível corre-los dali.

Logo começaram as denúncias formais, com todas as alegações e acrescentando questões de saúde pública que acabaram por levar ao local as autoridades sanitárias.

Era evidente que onde há animais há um pouco mais de cheiro, de moscas ou mosquitos, até de barulho, mas isso acontece com quaisquer animais, não seria por serem girafas. Os moradores uniram-se, mas as autoridades sanitárias referiram que havendo uma queixa, certamente haveria consequências, porque o queixoso alegava que não conseguia repousar em condições com os gritos dos animais e assim sendo, tornava-se impossível respeitar o silêncio e sossego das noites e assim sendo tinham de fazer o relatório obrigando à deslocação dos animais para outros locais.

O condomínio e toda a vizinhança pronunciaram-se contra a saída dos animais e chamaram a atenção para uma mentira que o novo vizinho estava a denunciar e que demostrava em absoluto a sua má vontade:

 

A – As girafas não emitem qualquer som vocal.

B – As girafas não batem com os pescoços umas nas outras.

C – As girafas não conseguem emitir gritos fortes.

D – As girafas não libertam cheiros nem atraem moscas ou mosquitos.

 

© DANIEL FALCÃO