Publicação: “Público” Data: 22 de Abril de 2018 Campeonato Nacional 2018 Taça de Portugal 2018 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2018 SOLUÇÃO DA PROVA Nº 2 (PARTE I) SMALUCO E A MORTE DE JORGE MARAVILHAS Autor: Inspector Boavida Natália
Vaz tem toda a razão. O caso da morte de Jorge Maravilhas foi muito mal
tratado por Smaluco, que terá contribuído com a sua
desastrada intervenção para que os seus amigos e ex-colegas da Polícia
Judiciária tivessem apressadamente concluído pela tese de suicídio o que
indiciava tratar-se claramente de um homicídio. O velho
detetive começou por contaminar o local do crime com atitudes pouco
refletidas, sendo a mais grave a que se prende com o gravador de cassetes de
Jorge. A sua
intuição levou-o a carregar na tecla “play” do gravador onde o antigo
radialista registava todos os instantâneos do dia-a-dia que fossem
suscetíveis de ser do interesse do seu vasto auditório e ouviu, desde o
início, a mensagem de despedida de Jorge, que culminou com aquilo que pareceu
ser o barulho do tiro que o terá matado. Só que este não podia ter-se
suicidado e de seguida rebobinar a cassete, colocando a mensagem no início.
Acresce que o gravador se apresentava imaculado, o que não é compatível com o
abundante sangue que escorrera da ferida até ao tampo da secretária e que
teria naturalmente encharcado a mão direita de Jorge, após desferido o tiro
fatal. A
inexistência de sangue no gravador de cassetes revela que não foi a vítima a
gravar aquela mensagem de despedida. É certo que a voz de Jorge Maravilhas é
inconfundível, mas isso não quer dizer que seja inimitável, sobretudo se a
imitação for executada por um… imitador profissional como o Necas Baptista,
“um dos mais completos e originais artistas de variedades de todo o mundo” (a
imitação de vozes seria a sua principal especialidade, o que lhe granjeou
“grande projeção internacional”…). Será de
admitir que a arte de imitação de Necas se estenda à caligrafia, sendo
possível, por isso, que o envelope a si endereçado contenha uma mensagem
escrita que, para além de abordar pormenores mais íntimos da vida de ambos,
faça também uma chamada de atenção para a mensagem deixada no gravador, a fim
de reforçar os indícios de suicídio. Não foi, porém, necessária esta chamada
de atenção para que Smaluco tomasse a iniciativa de
o fazer antes de chamar a Polícia Judiciária, contando depois sem grande
rigor aos seus ex-colegas as circunstâncias que rodearam a sua audição. Ainda a
propósito da arte de imitação de Necas, parece crível que ele seja exímio em
“beatbox”, pelo que o som do tiro que sucede à
declaração gravada poderá ter sido feito com a própria boca do assassino, não
tendo havido, assim, dois tiros naquele segundo andar na madrugada em que
aconteceu o homicídio de Jorge Maravilhas (só havia uma cápsula de bala no
escritório!) Ou, então, se houve segundo tiro, uma das cápsulas levou
sumiço). Mas isso será esclarecido numa análise à arma do crime e após
saber-se o número de tiros ouvidos pelos restantes moradores daquele prédio
chique da Lisboa Moderna, onde Necas e Jorge foram muito felizes antes da queda
do índice Dow Jones, do vício do jogo se ter
apoderado dos dois e de um jovem cantor ter aparecido na vida de Jorge
Maravilhas, o que deixou o seu companheiro de vida louco de ciúmes... |
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©
DANIEL FALCÃO |
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