Publicação: “Público” Data: 8 de Agosto de 2010 Campeonato Nacional 2010 Taça de Portugal 2010 Provas
|
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2010 PROVA Nº 8 (PARTE II) AS RIQUEZAS DESAPARECIDAS Autor: Faraó A mansão era
imponente, situada em lugar de relevo, no cimo de um cabeço cuidadosamente
arrelvado, rodeado de vegetação luxuriante e bem tratada. Foi construída por
um nobre de ascendência inglesa, um viajante inveterado que se apaixonou pela
ancestral cultura egípcia, tendo andado em escavações algures pelo Nilo, até
a idade o conduzir até este local repousado, onde fez construir a mansão e
terminou os seus dias. Agora eram os
filhos quem a habitavam, tendo mantido praticamente toda a traça original e a
decoração que o pai introduzira, com baixos-relevos egípcios, peças
artísticas e objectos de gosto duvidoso, todos
vindos da terra das pirâmides, provavelmente à revelia das autoridades. No cofre, situado
na biblioteca, a fama fazia constar que havia documentos e preciosidades que
ultrapassavam a imaginação e todas as pessoas que passavam pela mansão, em
trabalho ou em visita social, eram levadas a acreditar que havia uma enorme
fortuna por detrás daquelas portas pesadas e resistentes, praticamente
inexpugnáveis para quem não dispusesse da chave milagrosa e do segredo. Naquele dia, Jack
regressou de Londres, fez uma paragem em Lisboa, para efectuar
algumas compras que programara, antes de se dirigir para a mansão, onde foi
saudado pelos irmãos, John e James. Mas a vedeta maior deste reencontro foi o
cãozito, ainda pequenote, que Jack trouxe, adquirido numa loja de Lisboa. – Olhem só para
este cão e vejam se não vos desperta nenhuma recordação… – Jack, é igual aos cães que aparecem nas tumbas que o pai
estudava! – Tal e qual! Tinha
de o trazer, parecia que me pedia para o adoptar!
Digam olá ao Enji! Nessa noite, cálida
e serena, depois do animado jantar, servido pela velha criada que já vinha
dos tempos do pai, cada um foi à sua vida. A criada recolheu à cozinha,
depois de levantar a mesa; John foi para a sala de estar, assistir a um
programa televisivo que não pretendia perder; James subiu ao seu quarto, no
piso superior, porque queria ver se uns e-mails
urgentes haviam chegado; Jack instalou a coleira no Enji
e levou-o a passear pelo relvado. Algum tempo depois,
uma gritaria irrompeu do escritório. A velha criada viu o cofre aberto, vazio
e alguns papéis espalhados pelo chão e viu logo que alguma coisa de anormal
se passava, porque sabia que “os meninos” eram muito organizados e, em tantos
anos, nunca vira tal coisa. Um a um, foram
chegando, primeiro John, que estava na sala ao lado, depois James, alertado
pelos gritos e finalmente Jack, com o Enji. As jóias, os objectos de ouro, o
dinheiro, tudo desapareceu. Só os títulos e escrituras ficaram espalhados
pelo chão. Não havia marcas de
arrombamento no cofre ou nas janelas, que estavam todas fechadas por dentro. John: Estive na
sala de estar a ver o meu programa de televisão favorito. Quando acabou, fui
um pouco até lá fora, apanhar o ar fresco e vi o Jack a passear o Enji, saindo o portão com um saco do lixo na mão. Fiquei
algum tempo lá fora, ao fresco e quando o Jack já fechava o portão, ouvi os
gritos da Maria e corri para a biblioteca. Ela estava em pranto por ter visto
o cofre vazio e os papéis espalhados. Vi logo que houve um roubo. Cada um de
nós tem uma chave do cofre, que anda sempre connosco e sabe o segredo. Como é
que o ladrão entrou e abriu o cofre, não sei. É muito estranho. James: Estava no
meu quarto a consultar e-mails e a navegar na Net
quando ouvi os gritos da Maria. Desci as escadas e ao chegar à biblioteca já
lá estava o meu irmão John. É claro que tenho chave, que anda sempre comigo e
sei o segredo, tal como os meus irmãos. Não percebo como é que algum ladrão
conseguiu abrir o cofre, ou então alguém se esqueceu de o fechar, mas não eu
porque há muito tempo que não o abro. Jack: Fui passear o
Enji. Aproveitei para levar um saco com lixo para
meter no contentor que fica do outro lado da rua. Lá, o Enji
ouviu alguma coisa e desatou a latir. Ouviu alguma coisa e agora vejo que se
calhar era o ladrão a fugir, mas custa a acreditar. Quando estava a fechar o
portão, vi o John à entrada da casa e logo depois vi-o correr para dentro. Ao
entrar, vi a agitação na biblioteca e soube do roubo. Não sei bem o que lá
estava dentro. Estive estes dias em Londres, mas o meu irmão já me disse que
as jóias, os objectos de
ouro e o dinheiro desapareceram. A chave está sempre comigo e conheço bem o
segredo, tal como os meus irmãos. Nenhum deles sabia
bem se o seguro cobria ou não os danos, porque ainda era do tempo do pai. Mas
a convicção de todos era que não, porque alguns dos objectos
de ouro eram muito valiosos, mas obtidos pelo pai de modo pouco claro;
trazia-os das escavações e por isso não acreditavam que uma companhia de
seguros aceitasse coberturas assim. O visionamento das
filmagens, das câmaras de vigilância, que controlavam o jardim, não revelou
qualquer presença estranha, se bem que houvesse um ou outro ponto morto. Quem terá roubado o
conteúdo do cofre? A – James. B – Jack. C – John. D – Um ladrão do exterior. |
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
©
DANIEL FALCÃO |
|