Publicação: “Público” Data: 12 de Setembro de 2010 Campeonato Nacional 2010 Taça de Portugal 2010 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2010 PROVA Nº 9 (PARTE II) QUE GRANDE LATA Autor: Lateiro Frederica correu em
direcção ao rio, por entre as árvores. Procurava um refúgio, um sítio onde
pudesse recuperar o fôlego e ler a sua revista preferida. Pelo menos foi o
que ela contou quando foi questionada sobre o que aconteceu naquela tarde do
dia 27 de Maio: – Comprei a revista
e estava preparada para a começar a ler, quando notei que estava incompleta. – Que revista era
essa? – A Super Jovem. Comprava-a sempre e nesse
dia com muito mais interesse porque ia publicar uma colecção de cromos
autocolantes que eu não podia perder mesmo. – Cromos
autocolantes? Que cromos eram esses? – Eram sobre Bocas
Ecológicas. Tinham frases e imagens para sensibilizar as pessoas mais jovens
para as questões do ambiente, da ecologia, está a perceber? – Bem, mas depois o
que aconteceu? – Ora, o resto já
sabem, quando estava a desfolhar a revista, verifiquei que aquela não trazia
os autocolantes! – Voltaste à loja! – Pois voltei. Eles
não podiam ter à venda a revista sem os autocolantes, não é verdade? – Está bem, só há
aí um pormenor, tu não pagaste a revista, não é verdade? Foste reclamar que a
revista estava incompleta, mas não a compraste, pois não? – Essa agora,
pagando ou não a revista não estava completa! Se eu a tivesse pago, ficava
sem os autocolantes? – Minha linda, as
coisas não são assim. O primeiro erro é o gamanço da revista, entendes?
Depois, se não tinha os autocolantes, é que vinha a reclamação. Mas isso
agora não interessa. O que se passou a seguir? – Quando entrei na
loja para pedir os autocolantes, o homem passou-se dos carretos! Começou a
gritar e a esbracejar. Vi logo que ele não estava grande coisa e tratei de me
pôr ao fresco. – Não pensaste que
era por tua causa que ele estava a gritar? Não pensaste que ele estava a
gritar porque tu lhe gamaste a revista e ele reconheceu-te? – Ora, nem me
passou pela cabeça. O tipo estava chanfrado e pus-me a milhas… – E não notaste
mais nada, não ouviste nada? – Ouvi um estrondo,
mas já ia em corrida e nem para trás olhei. O homem podia ter alguma arma, eu
sei lá… – Pois, mas o homem
caiu em cima dos escaparates, se calhar empurrado por ti e acabou por morrer,
entendes? – Eu não disse que
ele não estava bem? Logo vi… Empurrado por mim, o tanas, eu estava cheia de
medo do tipo e fugi a sete pés! – O que fizeste
depois? – Corri quanto pude
e fui ler a revista para a sombra do Oceanário, em frente do Tejo, nas
calmas… – Nunca te
interrogaste sobre o que aconteceu ao homem? Nunca tiveste curiosidade em
saber? Nunca vieste falar connosco… – Ora, sabia lá eu
que vocês andavam à minha procura, tanto tempo passado e se eu não sabia o
que aconteceu ao homem, ia contar-vos o quê? – Minha linda, há
uma mentira no teu depoimento e por causa dela vais ficar connosco uma temporada,
para ver se te lembras dos pormenores, entendes? A – Não se publicava a revista Super Jovem. B – Não havia nenhuma colecção de cromos
autocolantes de Bocas Ecológicas. C – Não podia sentar-se à sombra do Oceanário para
ler a revista. D – Nada disto se podia ter passado no dia 27 de
Maio. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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