Publicação: “Público” Data: 17 de Janeiro de 2010 Campeonato Nacional 2010 Taça de Portugal 2010 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2010 PROVA Nº 1 (PARTE I) O COLAR DE ESMERALDAS Autor: Medvet A Baronesa de Faial
usou o seu famoso colar de esmeraldas no baile da gala que abriu a temporada
de festas da estação. Quando voltou para casa nessa noite, ou melhor, de
manhã cedo, tirou o colar antes de se retirar para o seu quarto e deu-o a seu
marido. O barão estava acompanhado do seu secretário particular, o qual viu a
baronesa entregar o colar e dirigiram-se os dois para o estúdio, onde
colocaram a jóia numa gaveta interior do cofre; essa gaveta foi fechada com uma
chave especial que nunca saía da posse do barão. O cofre foi, então, fechado
por Bastos, o secretário, e a combinação refeita. No dia seguinte o
assunto das conversas acabou por girar em torno de jóias famosas e um dos
convidados, um tal senhor Gomes, que apenas chegara nessa manhã antes do
almoço e era considerado um perito em jóias de considerável reputação, pediu
para ver o famoso colar. O barão e Bastos, de acordo com o procedimento
habitual, foram juntos retirar o colar do cofre, com o secretário a fazer
girar a combinação e o dono da jóia abrindo a gaveta interior com a
chavezinha que usava dia e noite num fino mas robusto cordão pendente do
pescoço. Quando voltaram
para a sala, o barão disse rindo que apenas em ocasiões muito especiais a
jóia ficava na casa. Era retirada do banco onde era guardada quando era
preciso e devolvida ao banco no dia seguinte. Uma vez que o baile de gala
terminara muito tarde e toda a gente na casa se levantara tarde nesse dia, o
colar ainda estava no cofre, mas Bastos levá-lo-ia no primeiro comboio da
manhã para a cidade. O sr. Gomes não fez
comentários e tirou o colar das mãos do barão; levantando ligeiramente as
sobrancelhas, mas sem dizer nada. Levou o colar para perto da janela, onde a
luz era melhor, e examinou-o de perto e com cuidado. O barão, interessado
pelo escrutínio cuidadoso, dirigiu-se para o seu convidado e perguntou a sua
opinião a respeito da famosa jóia. “Antes, ainda tenho
que o ver” – foi a resposta seca e o barão fitou-o espantado. “Ora, homem, você
tem-no nas mãos” – replicou, um pouco indignado. Gomes fitou-o nos
olhos. “Meu caro Carlos,
isto não é mais que uma imitação razoável. Para começar, as gemas são de
pasta.” “Tem a certeza?” “Apostaria a minha
reputação profissional. Se não me acredita, chame o Bastos. Creio que ele tem
um razoável conhecimento de gemas.” O secretário foi
chamado e mostraram-lhe o colar. “Diga-me o que
pensa disto”, disse Gomes, de modo casual. O secretário
agarrou no colar com uma expressão perplexa, que não tardou a mudar para
assombro à medida que examinava a jóia. “Ora… isto não é o
colar – gaguejou. Não passa de uma imitação razoável, é tudo o que posso
dizer.” “É de admirar que
não tenham notado isso antes!” – replicou o barão. “Senhor, esquece que
há muito tempo que não lhe mexo.” “É verdade,
desculpe.” Bastos trouxera o pacote selado com o selo do banco e fora o
próprio barão quem quebrara o selo e abrira o pacote. Fizera isto na presença
do secretário, como sempre – a presença de Bastos era habitual sempre que a
jóia era posta ou tirada do cofre. Era um caso nítido
de substituição, mas uma vez que não havia sinais de vigarice, o barão estava
relutante em informar a polícia. No entanto, um antigo polícia, um tal
inspector Fagundes que morava perto, era das suas relações. Assim, o barão,
ansioso para esclarecer este assunto, sem grande barulho decidiu chamá-lo e
explicou-lhe o problema. Fagundes tomou nota
dos factos: o colar estava no banco desde a última vez que fora usado, cerca
de três meses antes. O pacote com os selos do banco fora trazido por Bastos
na véspera, o dia do baile de gala. O barão em pessoa abriu-o na presença do
secretário e ambos admiraram a jóia na sua caixa. Nenhum lhe tocara e como de
costume foram os dois pôr a caixa com a jóia no cofre, onde ficou fechada até
a dona a pedir nessa noite. De novo foram os dois buscar o colar, com a
diferença que desta vez a caixa ficou no cofre, tendo o barão trazido a jóia
na mão. Ninguém notou nada de especial, nem a baronesa nem pessoa alguma no
baile –, mas estas talvez vissem o colar pela primeira vez. Aparentemente,
parecia que a substituição se dera entre o momento em que o colar fora
fechado no cofre nessa madrugada e a ocasião em que fora mostrado a Gomes.
Mas o cofre não tinha sinais de arrombamento; o secretário conhecia a
combinação, mas não tinha acesso à chave da gaveta. O barão tomara todas as
precauções possíveis para que a chave não lhe fosse arrancada do pescoço,
mesmo a dormir, já que tinha o sono leve. Além disso, a chave tinha sido
comprada havia três anos, isto é, mais de 18 meses antes de Bastos entrar ao
serviço. Bastos não deixara
a casa, de modo que, se por acaso fora o autor da substituição, o colar
estaria ainda por ali. Uma busca de todo o edifício nada revelou. O próprio
secretário alvitrou que se buscasse a jóia nos seus aposentos, na sua bagagem
e nele próprio. Nada apareceu, mas Fagundes já estava convencido de que nada
se encontraria. O barão poderia ter sido o culpado, talvez para vender a jóia
sem dizer nada a ninguém; a baronesa não teria motivo (nem oportunidade).
Quanto a Gomes, só chegara a casa depois de a jóia estar fechada no cofre.
Havia mais dois convidados, um jovem chamado Santos que a Fagundes pareceu
ter a energia de um lagarto ao sol, tendo dito vagamente que era primo da
baronesa. A outra convidada, Elvira Raiva, era uma jovem atractiva e vivaz. Fagundes ainda
pensou que a troca se efectuara no baile, mas a baronesa disse que não
deixara ninguém tocar no colar, nem a jóia saíra da sua vista durante todo o
tempo, até a dar a seu marido para a pôr no cofre. Ajudem o inspector
Fagundes a navegar neste mar de dúvidas. Quem foi a pessoa responsável pela
troca? E como e quando esta foi feita? |
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©
DANIEL FALCÃO |
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