Publicação: “Público” Data: 9 de Maio de 2010 Campeonato Nacional 2010 Taça de Portugal 2010 Provas
|
CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2010 PROVA Nº 5 (PARTE II) UM CRIME NO ALENTEJO Autor: Rip Kirby Sete horas da tarde
de um dia qualquer de um qualquer mês de Dezembro no posto da
GNR de uma vila qualquer do Alto Alentejo. O telefone toca. A um canto da
secretária dois pires de café, como se fossem castiçais, continham, apagadas,
cada um uma vela de cera meio gasta. Na base das velas via-se os restos da
cera que havia derretido. Lá fora, na rua, o
temporal era medonho e o contínuo ribombar dos trovões tornava difícil ao
agente que atendeu a chamada entender o que do outro lado da linha lhe era
dito. Por fim lá conseguiu entender o recado e respondeu laconicamente: vamos
já mandar alguém para aí. Daí a momentos o
agente estava transmitindo ao segundo sargento que comandava o posto o recado
que recebera. Numa vivenda situada no final daquela mesma rua havia
acontecido uma morte com toda a aparência de crime. O sargento convocou
dois agentes para o acompanharem e dirigiu-se ao lugar indicado onde chegou
cerca de dez minutos mais tarde. Foi de imediato encaminhado por uma serviçal
a um quarto de dormir onde sobre a cama se via o corpo de uma senhora já
idosa deitada sobre o seu lado direito vendo-se na têmpora esquerda um
ferimento, chamuscado e com resíduos de pólvora, provocado por um tiro. O braço direito
encontrava-se estendido numa diagonal de cerca de 45º em relação ao corpo e
na mão correspondente, embora de modo precário, segurava um revólver. O segundo sargento
concluiu que se tratava de um crime o que foi confirmado mais tarde, tal como
o revólver também foi confirmado como sendo a arma do crime. O militar da GNR
iniciou imediatamente as diligências tendo em vista deslindar o caso, que
talvez lhe viesse a valer uma promoção. Começou por passar
uma vista de olhos pelo quarto. Sobre uma cómoda
viam-se algumas imagens religiosas iluminadas por três ou quatro velas quase
completamente gastas, mas ainda acesas. Sobre uma das mesas-de-cabeceira,
para além de um candeeiro, estava um tabuleiro com um bule de chá, uma
chávena limpa sobre o respectivo pires, um
açucareiro, uma colher e um pires contendo uma torrada. Na outra
mesa-de-cabeceira havia igualmente um candeeiro, uma moldura com a foto de um
casal e um relógio electrónico, em cujo mostrador
os dígitos piscando indicavam 00:40. Numa escrivaninha a
um canto do quarto estava um telefone. Às perguntas do
sargento a serviçal respondeu: “Eram quase sete horas quando vim trazer o chá
à senhora. É costume vir às 17 horas, mas hoje não deu para isso. Quando
entrei estranhei ver a senhora deitada, mas só quando cheguei perto dela é
que vi que estava morta. Pousei o tabuleiro do chá sobre a mesa-de-cabeceira
e telefonei para a guarda mesmo daqui do quarto, depois desci e fui comunicar
o caso aos meninos.” Os meninos são os três sobrinhos da senhora. O sargento desceu
para o rés-do-chão e foi interrogar os sobrinhos da vítima. Leonardo respondeu:
“Desde as 16 horas, quando a tempestade se iniciou, que estive na varanda
observando o fantástico espectáculo que é uma
tempestade como a de hoje. Só saí da varanda quando a Fulgência me disse que
a tia tinha morrido e que já havia telefonado para a GNR. Ainda estive para
subir, mas depois pensei que já não ia adiantar nada, além de que
descuidadamente poderia deixar algum vestígio que me comprometesse, pelo que
fiquei aqui na sala onde já estava o Paulo.” Paulo, que
envergava um grosso roupão, disse: “Eu ausentei-me logo a seguir ao almoço e
só cheguei a casa perto das 17h. Nessa ocasião já chovia a bom chover. Tomei
um banho quente vesti o pijama e este roupão e vim sentar-me na sala
esperando que a Fulgência trouxesse o chá. Creio que adormeci, pois não me
lembro de nada a não ser de Leonardo abanando-me e dizer-me que a tia tinha
morrido. Ia correr para o quarto dela, mas ele não me deixou.” O Vítor afirmou:
“Após o almoço fui para o meu quarto onde permaneci toda a tarde, fazendo um
trabalho no computador. Só quando a Fulgência me disse que a tia estava morta
é que desci. Antes, porém, fui ao quarto dela para me certificar de que a
Fulgência não estava equivocada depois juntei-me aos meus primos. Antes de se retirar
o sargento pediu a Fulgência que o levasse a ver os quartos dos rapazes. Todos os quartos se
encontravam impecavelmente arrumados. Apenas o quarto de banho de Paulo tinha
o chão molhado e a um canto, dentro de uma cesta algumas peças de roupa
molhada. O quarto de Vítor
tinha o mobiliário exactamente igual ao dos primos
com apenas uma pequena diferença. A um canto havia uma secretária sobre a
qual se via um moderno computador de secretária que se encontrava desligado. Como todas as
evidências indicam que estamos perante um crime quem dá uma ajuda ao segundo
sargento ganhar a sua promoção dizendo que o criminoso foi: A – O Paulo B – A Fulgência C – O Vítor D – O Leonardo |
||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
©
DANIEL FALCÃO |
|