Publicação: “Público” Data: 27 de Junho de 2010 Campeonato Nacional 2010 Taça de Portugal 2010 Provas
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CAMPEONATO
NACIONAL E TAÇA DE PORTUGAL 2010 SOLUÇÃO DA PROVA Nº 5 (PARTE I) SMALUCO E OS IRMÃOS METRALHA Autor: Inspector Boavida Os indícios
recolhidos pelos investigadores permitiram sustentar que o homicídio fora
cometido por duas pessoas, sendo que uma delas voltara ao local do crime
depois de a vítima ter sucumbido. Conjugando esta conclusão com a informação
de que “tudo indicava que Nicolau tentara denunciar os autores do seu
homicídio pelos meios disponíveis, usando os processos de comunicação que o
seu estado permitia”, a que acresce o desaparecimento de “algo de configuração
rectangular, que deixou a marca da sua ausência numa mancha de sangue
presente junto ao telefone” e o facto de o telefone, a faca utilizada como
arma do crime e a caneta tombada junto ao corpo apresentarem apenas as
impressões digitais da vítima, podemos concluir que: a) Nicolau tentara
denunciar por telefone o atentado de que fora alvo, usando a faca do crime
para produzir os estranhos batimentos ao ver-se impossibilitado de falar; b) Antes disso,
Nicolau escrevera algo sobre o crime numa superfície rectangular (folha de
papel, bloco de notas, agenda…), que um dos homicidas acabaria por recolher
quando lá voltou. Sublinhe-se,
entretanto, o facto de a chuva que caiu copiosamente sobre a cidade (desde o
momento em que Smaluco chegou perto da casa de Nicolau até ao fim da noite)
ter molhado todas pessoas que haviam sido convidadas para a festa de
aniversário da vítima. Todas… excepto Neves. Recorde-se, ainda, que apenas
Neves não foi anunciado pelo polícia que ficara de plantão à porta do
edifício para registar o movimento de pessoas, ao contrário de todos os
outros convidados, o que significa que ele já estava dentro do prédio quando
a chuva começou a cair (e quando a polícia chegou, claro!). O metralha Neves
estivera escondido no prédio (não se quis expor à chuva?... ou será que se
confrontou com a chegada de Smaluco e temeu ser visto?...). Mas onde se
escondeu ele? Se nos recordarmos que o elevador, que estivera inoperacional
desde a chegada de Smaluco, se fizera de súbito ouvir quando chegou o médico
legista, talvez possamos admitir que fora lá que Neves estivera recolhido até
chegar a hora que julgou mais adequada para bater à porta de Nicolau. Para
reforçar a ideia de que Neves se escondeu no ascensor e o desactivou podemos
socorrer-nos do facto de ele ser mecânico de profissão. Seja onde for que
Neves se tenha escondido, de uma coisa podemos estar seguros: os “mimos para
o Nicolau” estiveram sempre ao seu cuidado. Os alegados presentes de
aniversário não apresentavam sinais de chuva, ao contrário dos seus
portadores, que não escaparam a uma grande molha, apesar de protegidos por
gabardinas. É crível que a caixa de média dimensão, quiçá originalmente
ocupada pelas duas visíveis garrafas de champanhe, guardasse os sapatos
calçados por Neves no momento do crime (trocados por outros, quando o
cúmplice regressou ao prédio), assim como é provável que os embrulhos
alegadamente carregados de presentes contivessem peças de vestuário
ensanguentadas de Neves (substituídas por roupa limpa) e… o tal objecto de
configuração rectangular onde Nicolau escreveu algo antes de morrer. Tudo parece indicar
que foi Neves um dos irmãos envolvidos no homicídio de Nicolau (os assassinos
eram pessoas de confiança da vítima, a quem fora franqueada a porta – não
havia sinais de arrombamento ou de que ela havia sido forçada). Mas quem
formou com Neves a dupla assassina? Smaluco obteve resposta a esta pergunta
quando olhou a rua através da janela da biblioteca de Nicolau e recordou as
discussões tidas com Natália quando procuravam enquadrar o papel do antigo
Regimento de Comandos da Amadora e do seu líder no período que se seguiu à
Revolução dos Cravos. No telefonema feito
para Smaluco, Nicolau, ao ver-se impedido de falar, utilizou a faca que o
degolara para produzir pancadas que deixassem expressa uma data de grande
significado para o seu velho amigo detective e sugerissem o envolvimento de
duas pessoas no seu homicídio, ao mesmo tempo que identificassem os seus
nomes. Foi por isso que ele produziu os seguintes batimentos: primeiro 2 batimentos
e depois 5 (o que forma o dia 25); seguiu-se 1 batimento e depois 1 outro (o
que forma o mês 11); seguiram-se 7 batimentos e depois mais 5 (o que forma o
ano 75). Estamos pois perante uma data formada por grupos de dois (!!!)
algarismos. Decifrada a data
(25 de Novembro de 1975), estão encontrados os dois irmãos assassinos: Jaime
e Neves, os nomes que formam a identidade do homem que liderava o antigo
Regimento de Comandos da Amadora naquela data incontornável da nossa história
recente – Jaime Neves. |
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©
DANIEL FALCÃO |
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