BLOGUE: CONCURSO
DE CONTOS POLICIAIS UM CASO POLICIAL NO NATAL O
CONTRATO | Fernando A.F. Aleixo O
FANTASMA DO HOTEL INFANTE SAGRES | Bernie
Leceiro A MINHA
NOITE DE NATAL | Paulo PRAZERES
DE NATAL | O Gráfico A
PRENDA DE NATAL DA MARTINHA | Paulo AMEM-SE
UNS AOS OUTROS | Inspector Moscardo YHWH
| L. Manuel F. Rodrigues CHEGARAM
OS PAIS NATAIS… | Abrótea A MORTE
DO PAI NATAL… | Paulo SONHO
DE UMA NOITE DE NATAL | Rui Mendes UM
CRIME NA NOITE DE NATAL | Paulo UM NATAL
DOS DIABOS | O Gráfico EM
FLAGRANTE – SHORT STORY | Investigador Canário NATAL A DOIS | Don Naype |
NATAL A DOIS Don Naype O café fechara
mais cedo. Lembrou-se então e lembraram-lhes os empregados, que era véspera
de Natal. As notícias da guerra puseram-no triste. Saber da morte, violência
e destruição, magoava-lhe a alma. Saiu para a rua, levantou a gola do casaco
para proteger as orelhas do frio, e num gesto quase automático, acendeu um
cigarro. As pessoas enchiam as lojas e as ruas. Grande movimento contínuo,
compras de última hora para fazer. Pegou no telemóvel e contactou a família e
os amigos, para saber da consoada. Surpresa. Achavam-se todos ausentes,
saíram para o estrangeiro. Inovadores dias os de hoje, que na quadra da
fraternidade ‒ porque essa, está ausente todos os dias do ano, e é
agora temporariamente requisitada ‒ as pessoas mais próximas de si,
pensam que ir para fora, como dizia o poeta, é quando o homem quiser. Andava oco de
pensamentos positivos, quando ao virar uma esquina alguém chocou com ele. Era
uma senhora linda. E acendeu-se no seu interior um flash.
Eu a conheço, de onde? Curiosamente
ela sentiu o mesmo. ‒ Tu não
és o César? ‒ Sou. ‒
Raquel? ‒ Sim. Sorriram e
cumprimentaram-se. Enquanto se olhavam, ela pensava para si mesma, eu não me
chamo Raquel, porque disse que sim? Ele atónito,
pensava também com os seus botões, não me chamo César, porque concordei? ‒ Vamos
tomar café? ‒ Onde?
Está tudo fechado. ‒
Procuremos. Tem de haver por aí qualquer coisa. César deitou
fora o cigarro, e apagou a beata com a biqueira da bota. Procuraram algum
estabelecimento em atividade. Ouvia-se a música Natalícia, e a luz decorativa
posta nas ruas já estava ligada. Descortinaram então uma roulotte
bar. Sentaram-se e pediram dois cafés. ‒ Que
Natal estranho, irregular, tão fora do normal e estabelecido. ‒ disse ele. ‒ Onde
está o amor ao próximo, o são convívio, a entreajuda, a união, a procura do
bem comum? ‒ Creio
que em vias de extinção. ‒ Respondeu ele. ‒ Quase
não há espécie nenhuma, hoje em dia, que não esteja nessa situação. – disse ela com ar de reprovação. ‒ Tenho
receio que a humanidade para lá caminhe. O seu instinto predador talvez se
aplique a si mesmo. ‒ Concordou ele, acendendo outro cigarro. Ficaram os dois
uns momentos calados. ‒ Venho
da Lapónia. ‒ Interrompeu o silêncio, a suposta Raquel ‒ Sou influencer há uns anos, e tenho lá inúmeros de
seguidores. Desloquei-me, para fechar alguns contratos de publicidade, a
produtos da região. ‒ A
sério? Eu tentei a minha chance como youtuber, porém os meus conteúdos tiveram pouca
aceitação. Nem um contrato de publicidade para amostra. ‒ A
Lapónia é conhecida como a casa do Pai Natal, o seu turismo roda e
desenvolve-se à volta disso. É também a terra do sol da meia
noite e da aurora boreal. ‒ Esses
regalos da natureza, são também fortes atrações, e
até obscurecem o Pai Natal. ‒ Achas
correto nós adotarmos o Pai Natal, como o ser misterioso, que entrega os
presentes descendo pelas chaminés, quando no tempo dos nossos pais, essa
tarefa era do Menino Jesus? ‒ Perguntou ela, enquanto arrumava com a
mão, a franja deslocada pelo vento. ‒ O
Menino Jesus, ficou associado ao sapatinho e à
peúga. Os tempos mudaram. Agora, telemóveis, portáteis, e outras coisas no
género, é que é. ‒ Daí a
sua substituição pelo pai Natal? ‒ Podes
crer. ‒ A
nossa consoada vai ser aqui ao relento, com este de frio de rachar e ameaças
de queda de neve? ‒ Perguntou-lhe ela com um ar, um tudo
nada, inquieto. ‒ Nada
disso. Sei de um hotel, que tem uma perfeita ementa de Natal. ‒ Então
vamos lá. Deixa-me ver se encontro as chaves do carro. Estão aqui. O hotel não
era longe. Não se supunha, que ali funcionasse um estabelecimento, com aquele
número de estrelas Michelin. Chegaram. O empregado foi arrumar o automóvel.
Foram para a suite, onde ele costumava ficar. A
ementa era a dar para o tradicional, com filhoses, coscorões e aguardente.
Havia mais bebidas no minibar privado. Cearam, deitaram-se, e comungaram do amor,
do carinho e ternura a que se entregaram. E já em pleno
dia de Natal, um flash inesperado, irrompeu como um
corisco, e passou de um para o outro. E ele soube de onde a conhecia, e era
ela. E ela recordou-se de onde o conhecia, e era ele. Na lista negra, que
outrora a rede de espionagem lhes fazia cumprir, cada um tinha sido para o
outro, um alvo a eliminar. Missões não cumpridas. Situação embaraçosa. Que
fazer? Nenhum deles se deu por conhecido. ‒Trocamos
de presentes? ‒ Perguntou, com um mal disfarçado nó na garanta, o
suposto César. ‒ Já que
não comprámos nada, ‒ ela mirou as bebidas do minibar ‒ façamos
um cocktail. Eu faço para ti e tu para mim. ‒ De
acordo. Pegaram as
garrafas e copos, e preparam as bebidas de costas voltadas, para não se estragar
a surpresa. Ela chorava, enquanto dissolvia a cápsula de cianeto. Ele
tremeu-lhe a mão, na altura de adicionar a estricnina, que caiu fora da taça,
e teve de repetir para acertar. Confecionados os cocktails,
olharam-se, e enquanto os seus olhos quase se traíam de tão tristes,
sugeriram: ‒
Brindemos! ‒ Um
tema de Natal? ‒ Sim. Ergueram as
taças, e antes de beber, disseram: ‒ Não
matarás! Fontes: Blogue Local do Crime, 20 de Outubro de 2024 Secção O Desafio dos Enigmas [195], … |
© DANIEL FALCÃO |
|
|
|