BLOGUE:

 

 

 

CONCURSO DE CONTOS POLICIAIS

UM CASO POLICIAL NO NATAL

 

O CONTRATO | Fernando A.F. Aleixo

O FANTASMA DO HOTEL INFANTE SAGRES | Bernie Leceiro

A MINHA NOITE DE NATAL | Paulo

PRAZERES DE NATAL | O Gráfico

A PRENDA DE NATAL DA MARTINHA | Paulo

AMEM-SE UNS AOS OUTROS | Inspector Moscardo

YHWH | L. Manuel F. Rodrigues

CHEGARAM OS PAIS NATAIS… | Abrótea

A MORTE DO PAI NATAL… | Paulo

SONHO DE UMA NOITE DE NATAL | Rui Mendes

UM CRIME NA NOITE DE NATAL | Paulo

UM NATAL DOS DIABOS | O Gráfico

EM FLAGRANTE – SHORT STORY | Investigador Canário

NATAL A DOIS  | Don Naype

FELIZ NATAL | Inspetor Al Vy T

A DEUSA ESCANDINAVA | F. Mateus Furtado

QUEM TIROU OS PRESENTES? | Rigor Mortis

 

QUEM TIROU OS PRESENTES?

Rigor Mortis

Natal! Tempo de família, de alegria, prazer e divertimento no abrir dos presentes, no deliciar-se com o amor – ou mesmo apenas a amizade – de quem os ofertara, com a excitação dos que os tinham recebido!

Não naquele Natal…

Quando a família se reuniu na sala de jantar, a imponente árvore de Natal num dos cantos, o bem arranjado presépio noutro, ficaram todos estupefactos a olhar para o vazio por baixo e aos lados da árvore… Todos os presentes tinham desaparecido! Debaixo da árvore estava apenas um pequeno envelope…

– O que é que aconteceu?!

– Quem é que tirou dali os presentes?!

– Que diabo!... Mas quem é que fez isto?!

As exclamações brotaram de todas as bocas, caras espantadas, escandalizadas, revoltadas…

– Que linda brincadeira! – rugiu o avô. – Está bem! Já percebemos a mensagem – neste Natal os presentes devem ser dados aos que mais necessitam! Certo! Mas estes que aqui estavam eram para esta família! Magda, Ruben, Clara, Berto, Diana! Como os adolescentes desta família, foi de certeza um de vós a tirar os presentes da árvore, para enfatizar a mensagem! Mas já chega! Amanhã tratamos disso, fica prometido, mas agora vamos lá pô-los de volta!

Os cinco jovens deram um passo em frente, mas nenhum se acusou.

– Ora, avô… – disse a Magda.

– Eu cá achei bem! – disse o Ruben.

– Foi uma bela ideia! – disse a Clara.

– Mas o que é aquele envelope? – interrogou o Berto.

– Dá-o ao avô! – ordenou a Diana.

Apanhando-o de debaixo da árvore, o Berto entregou o envelope ao avô, que o abriu e leu o que estava escrito na folha de papel que lá estava, escrito à máquina:

“Natal é quando cada um o quer!

Mas é sempre o tempo de se ser solidário, de ajudar os que precisam com aquilo de que eles precisam mais – dinheiro, bens materiais ou simplesmente amizade e ternura!

Fui eu quem tirou os presentes da árvore: 141293372417512.

Descubram quem sou e devolvê-los-ei, contra a promessa de darem algo de igual valor a outros que o necessitem mais.

Mas se não descobrirem quem sou, amanhã entregarei os presentes aos sem-abrigo. Tenho a certeza de que, no fundo, todos ficaremos felizes com isso!”

Hummm… – resmungou o avô, coçando a cabeça. – O número tem 15 algarismos… Os nomes destes cinco mafarricos têm todos 5 letras… E o texto tem 5 parágrafos… Está-se mesmo a ver!...

Quem terá tirado os presentes da árvore? A Magda? O Ruben? A Clara? O Berto? A Diana?

Claro que cada um dos presentes se apressou a aventar o nome do brincalhão…

– Foi decerto o Berto! – afirmou enfaticamente a Tia Guilhermina, com voz gongórica. – É o que tem o sentido de humor mais retorcido…

– Não, não!... – contrapôs o Tio Ludovico – Não pode ter sido senão a Diana. Ela está sempre com essas coisas de proteção dos pobrezinhos…

– Disparate! – disse a mulher do Tio Ludovico, abanando uma mão em ar de desprezo. – A Diana era lá capaz de fazer uma coisa dessas! Quem tirou os presentes foi o Ruben!

– O Ruben?! Porquê??interpôs a Tia Adelina, em tom ultrajado, ainda que com a sua voz meiga. Todos conheciam o seu carinho pelo sobrinho Ruben… – Foi de certeza a Magda, que é a mais velha dos cinco.

– Acabem lá com isso! – elevando a voz, o avô terminou com o reboliço.

– Foste tu, não foste, Clara?… – adoçando a voz, o avô pôs a mão na cabeça da Clara, com ternura. – Queres saber como o descobri?…

– Os vossos nomes, todos eles têm 5 letras. O texto também tem 5 parágrafos. O número escrito no papel deixado na árvore de Natal só tem palavras e letras, para além daquele críptico número de 15 algarismos…

– Se o número corresponde ao nome do autor da brincadeira, é lógico imaginar que cada 3 algarismos corresponderão a uma letra do nome. Separando os 15 algarismos em grupos de 3, temos 141 293 372 417 512…

– Como o texto tem 5 parágrafos, também tem lógica supor que cada um dos cinco grupos de 3 algarismos corresponderá a um parágrafo – “141” ao 1º parágrafo, “293” ao 2º, e assim por diante. E, de facto, o 1º algarismo de cada grupo de 3 segue precisamente a ordem dos parágrafos: 1-2-3-4-5!

– Se cada grupo de 3 algarismos corresponde a um parágrafo e o 1º algarismo de cada grupo determina precisamente a ordem do parágrafo, como estes aparecem no texto, porque não assumir que o 2º algarismo de cada grupo determina a palavra, pela ordem por que estas aparecem no parágrafo respetivo, e que o 3º algarismo de cada grupo determina a letra nessa palavra? – O avô não evitou um sorriso de triunfo…

– Sendo assim:

141     293     372     417     512

Cada   soLidário   dA   descubRam   mAs

C   L   A   R   A

– Foste tu, Clara, quem tirou os presentes da árvore, não foste? – concluiu o avô. – Mas aposto que terão sido os cinco a terem a ideia!

E foi o Natal mais feliz de que todos tinham memória…

 

Fontes:

Blogue Local do Crime, 5 de Dezembro de 2024

Secção O Desafio dos Enigmas [198], …

 

© DANIEL FALCÃO